A Federação Angolana de Futebol (FAF) fechou as contas do exercício financeiro de 1 de Julho de 2022 a 30 de Junho de 2023 com um saldo positivo de 648,5 milhões Kz, um crescimento de 83% face aos 355,1 milhões Kz registados no exercício financeiro anterior, naquele que é um aparente bom resultado, mas que é posto em causa pelo auditor externo, a Audiconta, que inscreveu sete reservas às contas.
Fonte: Expansão
São várias as questões levantadas pelo auditor independente, que “aprovou” as contas com reservas. Desde logo a começar pelas receitas. Isto porque a federação inscreveu receitas de 3,6 mil milhões Kz, em que 98% deste valor é relativo a patrocinadores, tendo o auditor externo solicitado esclarecimentos a estas entidades mas não obteve resposta pelo que a falta de resposta constitui uma limitação “à validação dos saldos”.
Os patrocinadores são a FIFA (1.444,6 milhões Kz), Ministério da Juventude e Desportos (1.5507 milhões Kz), a Confederação Africana de Futebol (CAF, 376,9 milhões Kz), a Endiama (207,9 milhões) e nenhum deles respondeu ao auditor. Mas a verificação dos saldos não passou apenas pelos patrocinadores, já que o auditor externo procurou saber junto de fornecedores, devedores e bancos os saldos que a FAF inscreveu no relatório e contas. E o resultado foi o mesmo, também não obteve respostas. “Procedemos ao envio de cartas de circularização para a confirmação de saldos com contrapartes terceiras da FAF, com valores expressos no activo e passivo, classificados nas rubricas de fornecedores, devedores diversos, bancos e patrocinadores. Pela falta de respostas destas entidades constituem limitação à validação dos saldos destas rubricas, conforme valores que discriminamos: fornecedores 74.321.814 Kz; Devedores diversos 51.277.870 Kz; Bancos 540.012.595; Patrocinadores 3.580.120.510,31 Kz”, refere o relatório do auditor independente anexo às demonstrações financeiras. Há também o caso de dois alegados credores, a quém a FAF refere como “conta 37.930” e “conta 37.999”, com valores a regularizar de 347,1 milhões Kz e 130,1 milhões, para os quais o auditor não conseguiu documentação de suporte, ficando assim impedido de “validar a natureza dos registos e saldos”. Contas feitas, dá um total de 477,2 milhões Kz .
A Audiconta alerta ainda para o facto de o crédito que a federação tem no BPC, no valor de 251,7 milhões Kz, que entrou em incumprimento, ter sido repassado à Recredit quando esta ficou com a quase totalidade do crédito malparado do maior banco público.
O auditor diz que não obteve o contrato nem o plano de financiamento da divida da FAF junto da instituição tomadora. “A não obtenção destes documentos não nos permite validar com segurança o saldo em dívida”, revela. Outra das questões que foi detectada pelo auditor foi a existência de despesas no valor de 140,2 milhões Kz sem qualquer suporte documental. “A FAF deve suportar as despesas realizadas através de documentos e justificar os gastos realizados pela gestão e evidenciar um melhor controlo e elegibilidade dos gastos.
Os gastos não documentados não são aceites fiscalmente e validos para fins de gestão”, remata a Audiconta. O auditor externo alerta numa reserva que não teve acesso ao inventário efectuado pela FAF, “o que não permitiu validar o saldo” de 174,3 milhões Kz.
De acordo com a política de aquisição registos dos materiais desportivos da FAF enfatizámos a necessidade de rever os critérios contabilísticos”. Outra questão levantada pelo auditor é já uma reserva habitual em muitos dos organismos ou empresas públicas do País, que é o facto de estarem instaladas em edifícios dos quais não detém qualquer prova de registo de titularidade.
Neste caso trata-se do edifício da FAF, construído aquando da realização do CAN em Angola com recursos de fundos públicos e entregue à federação, que foi anteriormente a sede do COCAN (Comité de Organização do Campeonato Africano das Nações).”Da análise feita, não podemos validar a titularidade do edifício, valorização e o registo no balanço da FAF”, refere uma das reservas.p
No entanto, nas notas ao balanço, a FAF explica que o edifico da sede não foi contabilizado nos activos (imobilizações corpóreas). “A direcção da FAF tem vindo a efectuar diligências para a finalização deste processo, cujo desfecho é incerto, uma vez que depende da obtenção de documentação de várias entidades públicas e privadas”, refere o relatório e contas.