Fonte: Club-k.net

Se a pergunta concreta, visou saber se, naquele momento, havia disco ou músicas novas de Yuri da Cunha, porquê que a resposta do jornalista tinha de descambar para “ele é cantor limitado, depende de outros músicos para cantar”?!

Embora respeitemos a opinião e visão de Miguel Neto, estamos em completo desacordo com ele.

1. O Yuri da Cunha é dos músicos da nova geração, que conquistou o seu espaço no nosso “music hall”, por talento e mérito próprios, bem como pelas opções criativas e interpretativas que dá à sua carreira.

2. O Yuri da Cunha se define a si mesmo como, essencialmente, um intérprete. Aliás, o título do último álbum musical dele, tendo mesmo a ver com isso, é “O Intérprete”.

3. No mundo da música, e o Kota Miguel sabe disso muito melhor do que nós, é integrado por várias categorias de fazedores, desde instrumentistas aos compositores, passando por intérpretes. E cada artista tem a sua margem de identificação e de escolha da faceta que pretende para a sua carreira.

4. No caso do Yuri da Cunha, a sua identificação e escolha recai para a faceta, dentro da carreira musical, de intérprete. E tem sido assim desde os primórdios da sua carreira, quando, cantor piô, emergiu ao público com a música “O Amigo”.

5. Pelo que, fazer dessa identificação e escolha artística de uma pessoa, um motivo de minimização/desconsideração do seu trabalho, nos parece exagerado e desnecessário.

6. Vale sinalizar que, pelo facto do Yuri da Cunha se apresentar como intérprete (aquele que dá voz a letras e composições de outras pessoas) e de recantante/reintérprete de músicas já feitas, e que fazem parte do nosso ambiente musical, não lhe diminui como artista e nem significa que ele seja incapaz de produzir letras e composições suas.

7. Na música angolana, mais um dado que o Kota Miguel conhece melhor, sempre tivemos artistas conhecidos apenas como bons intérpretes, a exemplos de Carlos Burity, Bangão e Rui Mingas (este também compunha a partir de poemas já existentes), cujas carreiras nunca foram e nem se viram desmerecidas por essa opção artística.

8. Na nova geração, então, é o que temos em demasia, exemplos: as Yolas, Patrícia Faria, Edmázia, Pérola, as integrantes d’As Jingas do Maculusso, Edy Tussa, etc., etc. Enquanto intérpretes, estão a fazer, e bem, as suas carreiras, sem que alguém diga que sejam menos artistas, por causa disso, i.é, serem basicamente intérpretes.

9. Sendo certo que sempre houve, e há também na actualidade, artistas que cantaram e cantam as suas próprias composições: Rei Elias, Teta Lando, Barceló Bonga, Filipe Muquenga, Lulas da Paixão, Paulo Flores, Eduardo Paím, Euclides Dalomba, Heavy C, Ivan Alexey, entre outros.

10. Portanto, não vem mal ao mundo, por o Yuri da Cunha fazer sucesso com interpretações, partindo de composições dadas por outros ou por reintepretar e recantar sucessos de outrora e de outros artistas da sua geração, com os quais se identifica.

Em tese, o facto do Yuri da Cunha estar a trilhar a sua carreira, que já leva mais de duas dezenas de anos, como um intérprete em estúdios e em palcos, que mal há nisso?

Para nós outros, não há mal nenhum.

Mas, para o Kota Miguel, há mal, por achar que, desse jeito, o artista se coloca numa zona de conforto.

Ainda assim, não compreendendo, porém, apenas respeitando a crítica, pensamos que a vontade e a opção do artista são as coisas que mais importam.

O resto, é, somente isso mesmo, o resto!

Força, Yuri da Cunha, o homem que, ido do Sumbe, Cuanza-Sul, chegado a Luanda, capital, delimitou o seu lugar privativo na nossa cena musical, pela tridimensionalidade da sua brilhante carreira artística: intérprete, compositor e showman!!!

P.S.: Face à onda crescente de reprovação, Miguel Neto já diz que tudo não passou de brincadeira, que aquele espaço que a Zimbo lhe concede não deve ser levado muito a sério e que gosta muito do Yuri da Cunha. Debalde!

Só um conselho válido para todos nós, incluindo o Mais velho Miguel Neto: nestes tempos de redes sociais, em que todas as declarações públicas são analisadas e comentadas e, as mais das vezes, essas análises e comentários são feitos sem se ter em conta os contextos das declarações iniciais, é fundamental termos o cuidado com o que dizemos dos outros, podemos até pensar, mas ao dizermos há que medir o sentido e o alcance das palavras. Ou seja, hoje por hoje, a fronteira entre virar meme e ser sério está bastante ténue, cabendo a nós, os fazedores de declarações públicas, escolher o timbre que melhor se adequa a nós. Enfim…