Nesta quarta-feira, a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) chamou atenção para a grave situação de fome e pobreza nas províncias do leste de Angola, destacando o problema como uma “emergência nacional”. A denúncia foi feita após a visita do presidente do maior partido da oposição, Adalberto Costa Júnior, à região entre 1 e 10 de março de 2025, onde visitou as províncias da Lunda Norte, Lunda Sul e Moxico.
Durante sua visita, Adalberto Costa Júnior esteve em 15 municípios e teve encontros com governadores e líderes religiosos das províncias visitadas, como o arcebispo e bispo de Saurimo (Lunda Sul) e Luena (Moxico), Dom Imbamba e Dom Martin, respectivamente. O secretário-geral da UNITA, Álvaro Daniel, apresentou um balanço da viagem, ressaltando que as queixas sobre a fome e a pobreza são generalizadas e afetam gravemente as comunidades locais.
Álvaro Daniel afirmou que o Governo deve tratar a situação como uma “emergência nacional” e convocar a sociedade civil, os empresários e a comunidade internacional para estudarem as causas do problema e buscar soluções concretas. Ele criticou o programa Kwenda, uma iniciativa de transferência direta de renda para famílias vulneráveis, alegando que não resolve o problema da fome, mas contribui para uma “mentalidade de dependência”, onde as famílias esperam apenas ajuda do Estado.
Além da fome e pobreza, a delegação da UNITA também recebeu denúncias sobre os maus-tratos nas áreas de exploração diamantífera. As condições de trabalho nas minas são descritas como “selvagens”, com relatos de assassinatos e torturas de cidadãos cometidos por empresas de segurança, muitas vezes ligadas a pessoas influentes do regime. Segundo Álvaro Daniel, essas práticas são motivadas pela busca de controlar lavras diamantíferas, com vítimas cujos terrenos são cobiçados pelas grandes empresas.
Outro ponto crítico levantado pela UNITA foi a precariedade das estradas que conectam as cidades capitais das províncias aos municípios, dificultando o acesso e a circulação. Também foi mencionada a falta de investimentos das empresas de mineração nas comunidades locais, que deveriam receber uma parte da produção diamantífera como forma de retribuição pela exploração dos recursos.
A UNITA relatou ainda dificuldades em diversas áreas sociais, como o alto índice de desemprego, especialmente entre os jovens, o número elevado de crianças fora da escola e a ausência de professores em algumas regiões. Além disso, muitos cidadãos ainda não possuem Bilhete de Identidade, o que impede seu exercício pleno da cidadania. A falta de medicamentos e a escassez de recursos nos hospitais públicos também foram mencionadas como questões graves, que impactam diretamente a qualidade de vida das populações.
Álvaro Daniel destacou que esses problemas são uma das principais razões para o crescente descontentamento com o governo de João Lourenço e as manifestações populares por uma mudança democrática. Segundo o dirigente da UNITA, a falta de soluções eficazes para esses problemas alimenta a rejeição ao regime atual e aumenta o desejo por alternância política no país.
Em resposta às inquietações apresentadas pelas populações visitadas, o grupo parlamentar da UNITA pretende levar algumas propostas legislativas à Assembleia Nacional, com o objetivo de abordar as questões críticas identificadas nas províncias do leste de Angola.
Além disso, a UNITA vai comemorar seus 59 anos de existência no dia 15 de março, em um evento que ocorrerá no Lobito, província de Benguela. O ato será uma oportunidade para reflexão sobre a contribuição do partido na luta pela independência e pelos direitos do povo angolano, com o lema “UNITA, 59 anos — pela Independência e Liberdade, Unidade Nacional e Alternância do Poder”. O evento contará com a presença de membros do partido, simpatizantes e convidados estrangeiros.
Esses acontecimentos evidenciam a crescente mobilização da UNITA em torno de questões sociais urgentes e seu posicionamento em relação à atual administração, buscando construir um debate mais amplo sobre as mudanças necessárias no país.