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Fome e desigualdade em Angola: Testemunho da Irmã Maria do Céu Costa

Luanda – A realidade da fome em Angola tem despertado a atenção de religiosos e organizações internacionais. A irmã Maria do Céu Costa, missionária portuguesa há mais de 25 anos no país, descreve uma “crise humanitária” que impacta especialmente as populações mais pobres. Em entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), ela relatou que a fome se manifesta de maneira alarmante nas ruas: “As coisas não estão muito bem em Angola, existe muita fome, e vê-se muita gente nos contentores [do lixo] a procurar coisas para comer”.

A situação da educação em Angola também é crítica. Segundo a irmã Maria do Céu, o sistema é marcado pela corrupção, onde muitas famílias enfrentam dificuldades para matricular os filhos, principalmente em escolas públicas. “Se queres entrar numa escola, mas não há lugar, se tu pagares, então encontra-se lugar. Mas muitos milhares de crianças não conseguem ingressar”, explica. Essa barreira para a educação aumenta o número de crianças sem acesso a alfabetização, perpetuando o ciclo de pobreza.

Atuando no bairro de Maianga, nos arredores de Luanda, a irmã Maria do Céu tem como missão formar jovens com valores humanos e cristãos, promovendo o amor ao próximo e a responsabilidade social. Ela relata, contudo, a tristeza de ver alunos chegando para as aulas sem ter o que comer, o que prejudica seu aprendizado. “É uma pena ver os alunos que vão para a sala de aulas sem comer e depois é difícil captar a atenção”, lamenta.

Outro ponto preocupante levantado pela religiosa é o elevado desemprego entre os jovens. Muitos acabam desmotivados, e a falta de perspectivas causa um aumento significativo nos índices de suicídio, uma questão sensível e pouco debatida publicamente. “Há muitos jovens que ficam sem trabalho e, por isso, às vezes, ficam sem motivação para viver… Muita gente se suicida porque não veem futuro para a vida”, confessa a missionária, revelando a gravidade do problema.

Com um salário mínimo de cerca de 70 mil Kwanzas (aproximadamente 78 euros), a maioria das famílias vive com extrema dificuldade. Para muitas pessoas, garantir uma única refeição por dia já é um desafio, e muitas recorrem aos contentores de lixo em busca de alimentos. Apesar das dificuldades, a solidariedade entre as famílias angolanas é destacada pela irmã Maria do Céu: “Eles são muito solidários. Quando alguém tem um emprego, esse salário é para toda a família”.

As religiosas na comunidade vivem da caridade e enfrentam uma constante procura por ajuda. Muitas vezes, mães desesperadas batem à porta em busca de alimentos. A irmã Maria do Céu admite as dificuldades de ajudar a todos. “Nós também temos meninas em casa que estamos a ajudar. Temos nove meninas que também comem. Quando temos algo, repartimos, mas às vezes também não temos nada…”, relata.

Recentemente, os bispos angolanos reuniram-se em Assembleia Ordinária e enfatizaram a urgência de combater a fome no país. D. Belmiro Chissengueti, bispo de Cabinda, ressaltou que “nenhuma nação pode sobreviver de barriga vazia”, destacando o compromisso da Igreja com a luta contra a desigualdade social.

A situação em Angola reflete um cenário de pobreza extrema e desafios profundos, que clamam por atenção internacional e soluções sustentáveis. As palavras da irmã Maria do Céu Costa revelam o impacto dessa realidade na vida dos angolanos e reforçam a importância da solidariedade e da compaixão diante de uma crise que afeta milhares de vidas.