O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a confrontar a comunicação social, ameaçando desta vez revogar a licença de operação da cadeia ABC News. A reação surgiu após uma jornalista da estação questionar o Chefe de Estado sobre negócios da Trump Organization na Arábia Saudita e sobre o caso Jeffrey Epstein, durante a receção ao príncipe herdeiro Mohammed bin Salman na Casa Branca.
A tensão começou quando Mary Bruce perguntou a Trump se considerava apropriado que a sua família mantivesse parcerias comerciais com Riade enquanto exercia funções presidenciais. O tema ganhou relevância após a empresa saudita Dar Global anunciar um novo projeto imobiliário nas Maldivas em colaboração com a Trump Organization, atualmente gerida pelos filhos mais velhos do Presidente, Donald Jr. e Eric. Apesar de ter entregue a gestão do grupo à família, Trump continua a ser acionista através de um fundo fiduciário.
A repórter dirigiu também uma questão a Mohammed bin Salman, recordando que os serviços de inteligência norte-americanos atribuíram ao príncipe responsabilidade pelo assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018. Bruce perguntou ainda como o líder saudita justificava a sua presença na Casa Branca perante o descontentamento de familiares das vítimas do 11 de Setembro.
Visivelmente irritado, Trump interrompeu a jornalista, atacando a ABC: “Fake news. Uma das piores.” Acrescentou que se afastou totalmente do negócio da família e respondeu pelo príncipe saudita, dizendo que este “não tinha conhecimento de nada” sobre o homicídio de Khashoggi. O Presidente acusou ainda a repórter de constranger o convidado.
A troca de acusações agravou-se minutos depois, quando Bruce voltou a questionar o Presidente sobre o caso Epstein, ao que Trump respondeu com novos ataques pessoais: “A sua atitude é terrível. É uma péssima jornalista.” O Presidente sugeriu então que a ABC deveria perder a sua licença, alegando que a estação divulga “notícias falsas e incorretas” e pediu ao regulador norte-americano, a FCC, que investigasse a emissora.
Este episódio soma-se a uma série de confrontos entre Trump e jornalistas desde o início do seu segundo mandato. O Presidente tem processado vários meios de comunicação, incluindo o Wall Street Journal, New York Times e CBS, e afirmou recentemente que tomará medidas legais contra a BBC.
A polémica intensificou-se depois da divulgação de imagens onde Trump insulta Catherine Lucey, correspondente da Bloomberg, a bordo do Air Force One. Ao ser questionado sobre documentos relacionados com Jeffrey Epstein, o Presidente respondeu: “Cala-te, cala-te, porquinha.”
A divulgação das imagens provocou críticas generalizadas entre jornalistas e figuras do setor. Jake Tapper, pivot da CNN, classificou o comportamento de Trump como “repugnante e inaceitável”. Gretchen Carlson, antiga apresentadora da Fox News, fez eco das críticas, considerando os comentários “degradantes”.
Em comunicado, a Bloomberg repudiou o episódio e destacou que os seus repórteres cumprem “um serviço público essencial, fazendo perguntas sem medo ou preconceito”, sublinhando o compromisso com uma cobertura rigorosa e de interesse público.

