Cartum — Crescem os relatos de assassinatos em massa e atrocidades contra civis na cidade de Al-Fashir, capital regional de Darfur, poucos dias após as Forças de Apoio Rápido (RSF) assumirem o controlo total da região. A situação, descrita por organizações internacionais como “catastrófica”, reacende o medo de um novo genocídio no oeste do Sudão.
Lusa
A cidade era o último grande bastião fora do domínio das RSF, que travam uma guerra contra o Exército sudanês desde abril de 2023. Após 18 meses de cerco, a tomada de Al-Fashir pelos paramilitares desencadeou uma onda de violência sem precedentes. Segundo fontes ligadas ao Governo pró-exército, mais de 2.000 civis foram mortos durante a ofensiva.
O líder das RSF, general Mohamed Hamdan Daglo “Hemeti”, reconheceu a gravidade da situação, classificando-a como uma “catástrofe”, mas justificou a ofensiva ao afirmar que “a guerra foi-lhes imposta” e que pretende “a unidade do Sudão, pela paz ou pela guerra”.
A investigadora Hager Ali, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (GIGA), considera que a retirada das Forças Armadas da região deixou os civis desprotegidos. “As RSF querem consolidar o seu domínio e demonstrar poder absoluto. O objetivo é enviar uma mensagem de medo — mostrar que podem agir sem consequências”, sublinhou.
Na quarta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) denunciou o ataque a um hospital em Al-Fashir, que resultou em mais de 460 mortos e no sequestro de profissionais de saúde. O episódio foi descrito como parte de uma “estratégia sistemática de extermínio”.
Para a especialista em Sudão Shayna Lewis, a violência das RSF segue um padrão histórico. “Esta destruição indiscriminada e os assassinatos em hospitais são típicos do seu modus operandi. As RSF nasceram das milícias usadas pelo regime de Omar al-Bashir durante o genocídio de 2003, e essa lógica genocida persiste”, afirmou.
A guerra civil sudanesa transformou-se numa das maiores crises humanitárias do planeta. Estima-se que 14 milhões de pessoas tenham sido deslocadas e mais de 140 mil mortas desde o início do conflito. A fome, a cólera e a destruição das infraestruturas de saúde agravam a situação num país rico em recursos naturais, mas devastado pela violência.
Organismos internacionais alertam que, sem intervenção urgente da comunidade internacional, Darfur poderá reviver um dos capítulos mais sombrios da sua história recente.

