Luanda — A recente subida do preço do gasóleo em Angola, de 300 para 400 kwanzas por litro, implementada no dia 4 de Julho, gerou forte reacção em várias cidades do país, com destaque para Luanda, onde a paralisação dos taxistas resultou em dias de tensão e violência. Embora o aumento represente 33%, o impacto imediato foi um reajuste de 50% no valor das corridas de táxi colectivo — de 200 para 300 kwanzas — o que despertou críticas e colocou em debate a política de subsídios do governo.
Especialistas e observadores questionam a lógica do reajuste nos transportes, considerando que cerca de 30% dos táxis ainda operam com gasolina, cujo preço se manteve inalterado. Com base nesses dados, analistas apontam que o preço das corridas deveria ter subido, no máximo, até 250 kwanzas.
A falta de comunicação prévia e de transparência no processo agravou o cenário. Para o sociólogo Paulo de Carvalho, medidas impopulares como esta exigem estudos multidisciplinares, auscultação pública e uma comunicação clara com os cidadãos. “Sem esse cuidado, os protestos populares são inevitáveis”, afirmou em artigo publicado no início desta semana.
Desde 2022, Angola já registou quatro aumentos no gasóleo e um na gasolina. No entanto, o impacto desses reajustes não se traduziu em melhorias significativas para a população, nem em benefícios visíveis para os sectores mais vulneráveis.
A análise de Carvalho critica também a forma como os recursos poupados com a redução de subsídios vêm sendo utilizados. Para ele, é fundamental que os ganhos sejam canalizados para políticas públicas visíveis e de impacto real — como educação, saúde, saneamento básico, apoio à agricultura e criação de empregos.
O artigo alerta ainda para o excesso de gastos do Estado, a falta de compromisso com o serviço público e a perpetuação de desigualdades promovida pela actual política de subsídios. Segundo o autor, enquanto o governo continuar a beneficiar os mais ricos e ignorar os mais necessitados, o descontentamento social tende a crescer.
Outro ponto destacado é o papel da comunicação social estatal, acusada de partidarismo e má informação durante os dias da paralisação. A tentativa de desmobilizar os protestos por meio de notícias confusas agravou ainda mais a desconfiança da população.
O texto termina com um apelo à mudança de postura por parte dos governantes, defendendo maior diálogo com a sociedade, respeito pelas liberdades constitucionais e responsabilização pelos erros cometidos. “Se continuarmos a agir como até aqui, os resultados serão os mesmos — com agravamento das consequências”, alerta Paulo de Carvalho.
O sociólogo conclui que a recente crise poderá representar um ponto de viragem para o país. “Estamos num momento decisivo. Ou o governo muda a sua forma de actuar, ouvindo os cidadãos e promovendo justiça social, ou arrisca-se a perder completamente a sua legitimidade”, afirma.
Com a aproximação do final de Agosto — mês marcado por tensões históricas no país — aumenta a expectativa sobre os próximos passos do Executivo face à crescente insatisfação popular.