No contexto angolano, a mineração de criptomoedas apresenta um cenário complexo, especialmente diante da ausência de regulamentação específica, o potencial para actividades ilícitas e o impacto adverso na oferta de energia hídrica.
By: Verdim Pandieira
Desafios
1. Ausência de Regulamentação:
A falta de um quadro jurídico claro cria um ambiente de incerteza, onde operações de mineração podem ser realizadas sem supervisão adequada, aumentando o risco de actividades ilegais, como lavagem de dinheiro e evasão fiscal.
2. Actividades Ilícitas:
Sem regulamentação, a mineração pode ser utilizada como fachada para actividades ilícitas, dificultando a aplicação da lei e a protecção dos investidores.
3. Impacto Energético:
A infraestrutura energética de Angola, predominantemente hídrica, pode ser sobrecarregada pela alta demanda de energia das operações de mineração, afectando a disponibilidade de energia para a população e outros sectores económicos.
Proposta de Cenário
Para mitigar esses desafios, o um possível cenário para a mineração de criptomoedas em Angola incluiria:
1. Desenvolvimento Regulatório:
Implementar um marco regulatório robusto que estabeleça diretrizes claras para a operação de mineração, incluindo requisitos de licenciamento, conformidade fiscal e medidas de combate à lavagem de dinheiro.
2. Tecnologia Sustentável:
Criar um pacote de incentivos e concentrar esse negócio em parques tecnológicos que utilizam 80% de fontes de energia renovável, como solar e eólica, para complementar a matriz hídrica que seria de apenas 20%, reduzindo o impacto ambiental e, incentivar o uso de tecnologias de mineração energeticamente eficientes como ASIC de última geração.
3. Monitoramento e Supervisão: Criar mecanismos de monitoramento e supervisão para garantir que as operações de mineração sejam conduzidas de forma legal e ética, protegendo o sistema financeiro de abusos.
Ganhos Económicos e Sociais
1. Diversificação Económica e Geração de Empregos:
A mineração regulamentada pode atrair investimentos estrangeiros, impulsionar a indústria de tecnologia, criar empregos qualificados e gerar receitas fiscais, contribuindo para o crescimento económico do país. Assim, o desenvolvimento de habilidades em blockchain e TI fortaleceria a economia digital angolana.
2. Inovação Tecnológica:
Estimular o desenvolvimento de infraestrutura tecnológica e capacitação profissional, posicionando Angola como um hub de inovação no sector de blockchain e criptomoedas.

Por: Verdim Pandieira
3. Integração com o Mercado Global de Criptomoedas:
Com uma capitalização global de US$ 3 trilhões (2025), o mercado de criptoativos oferece oportunidades para exportação de serviços de mineração e atração de capital estrangeiro.
A adopção de stablecoins ou CBDCs (moedas digitais de bancos centrais) poderia modernizar o sistema financeiro angolano.
4. Reservas Internacionais:
a) Diversificação e Protecção:
Criptomoedas como Bitcoin são vistas como “ouro digital” devido à escassez programada (21 milhões de BTC) e resistência a censura. Países como El Salvador já adoptaram BTC como reserva .
Em cenários de desconfiança no dólar (ex., sanções internacionais), criptoativos ofereceriam ao BNA alternativa descentralizada para transações globais. Uma estratégia de diversificação de reservas (ex.: limitar exposição a 2-5% do total) poderia mitigar riscos.
b) Redução de Custos e Eficiência:
Transações em blockchain são mais baratas e rápidas que sistemas tradicionais (ex., XRP liquida em 3-5 segundos com taxa de US$ 0,0002) .
O Banco Nacional de Angola pode usar stablecoins ou CBDCs (moedas digitais de bancos centrais) para agilizar pagamentos internacionais .
5. Inclusão Financeira:
Facilitar o acesso a serviços financeiros digitais para populações não bancarizadas, promovendo a inclusão financeira e o empoderamento económico.
6. Infraestrutura Energética:
Havendo parques tecnológicos, que absorvem a oferta de energia limpas, os investimentos em fontes de energia renováveis para suportar a mineração poderia aumentar e melhorar a infraestrutura energética do país, beneficiando outros sectores e a população em geral.
Riscos
1. Volatilidade: Bitcoin têm alta volatilidade (quedas de até 70% em 2021), o que exige gestão cautelosa para evitar perdas financeiras.
2. Regulação: Acções do governo Trump nos EUA (ex., reserva em BTC) podem influenciar políticas globais, mas incertezas persistem. É importante que Angola desenvolva uma regulamentação adaptada ao seu contexto.
3. Custo de Oportunidade: Reservas em cripto podem reduzir investimentos em setores como infraestrutura ou saúde.
Conclusão
Ao implementar uma abordagem equilibrada e estratégica, Angola tem o potencial de converter a mineração de criptomoedas em uma alavanca económica significativa, ao mesmo tempo em que mitiga os riscos inerentes à escassez de energia e à ausência de regulamentação. Estabelecendo um quadro regulatório robusto e transparente, o país pode criar um ambiente propício para o crescimento sustentável do sector.
Promover a inovação através do desenvolvimento de polos industriais tecnológicos permitirá a Angola não apenas fomentar a competitividade do sector, mas também atrair investimentos e talentos globais. A adoção de práticas sustentáveis, como o uso de fontes de energia renovável (80/20) e tecnologias de mineração eficientes, será crucial para minimizar o impacto ambiental e garantir a resiliência da infraestrutura energética.
Com essas estratégias, Angola pode não apenas colher os benefícios económicos da mineração de criptomoedas, mas também se posicionar como um player relevante e influente em um mercado global em rápida expansão.