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Rafael Marques questiona elites e apela à inclusão política em Angola

by REDAÇÃO

Luanda  — O jornalista e ativista Rafael Marques de Morais publicou uma reflexão crítica sobre o papel das elites angolanas e o estado atual da política no país, intitulada “Elite Boa, Elite Má”. No texto, Marques lança um apelo à escuta ativa, à tolerância e à inclusão como caminhos para uma Angola mais justa e democrática.

A narrativa começa com um encontro casual entre o autor e um jovem que se identifica como membro da chamada “elite boa” — filhos de dirigentes que, segundo ele, rejeitam o exibicionismo e a corrupção, preferindo o empreendedorismo responsável e o distanciamento dos esquemas de desvio de fundos públicos. Para esse jovem, esses membros da elite estariam comprometidos com o bem-estar do povo e com práticas mais éticas.

Rafael Marques não contesta diretamente a distinção entre “elite boa” e “elite má”, mas prefere focar-se na necessidade de promover o diálogo e a escuta. O autor alerta para o perigo da radicalização e da intolerância que têm corroído o tecido social angolano, alimentadas por discursos políticos excludentes e polarizações artificiais.

“Ouvir o outro com genuína curiosidade pode ser o gesto mais revolucionário num ambiente contaminado pela intolerância política”, escreve, sublinhando que a maturidade política está em ver as divergências como oportunidades e não como ameaças.

Num segundo momento do texto, Marques critica diretamente o Presidente da República e líder do MPLA, João Lourenço, pela entrevista concedida à Televisão Pública de Angola (TPA), na qual exclui a possibilidade de concorrência interna à liderança do partido, contrariando, segundo o autor, os próprios estatutos do MPLA. Essa postura, afirma, reforça uma lógica de exclusão e de personalização do poder que tem perpetuado a estagnação política em Angola.

O caso de Higino Carneiro — figura política que teria manifestado interesse em disputar a liderança — é citado como exemplo de como divergências são reprimidas dentro do partido, ao invés de promovidas como expressão de democracia interna. Para Rafael Marques, tais práticas minam os princípios de representatividade e transparência que deveriam nortear a política nacional.

O autor denuncia ainda o uso do medo e da manipulação por parte de elites dirigentes para manter o poder, enquanto preparam os seus próprios futuros em exílios confortáveis, demonstrando pouca confiança nas estruturas que eles próprios construíram. “São essas políticas de exclusão — blindadas pela violência política e pela corrupção sistémica — que têm permitido a longevidade da mediocridade e da pilhagem impune dos recursos do país”, acusa.

Para Marques, Angola atravessa um momento crítico e decisivo. A crise socioeconómica e a saturação política representam, paradoxalmente, uma oportunidade para a transformação. Defende que a mudança precisa de ocorrer nas mentalidades e nas estruturas do poder, com foco na educação, descentralização, reforma da administração pública e do sistema judicial e eleitoral.

No encerramento do texto, o jornalista rejeita a divisão simplista entre “bons” e “maus”, argumentando que essa lógica reforça a exclusão e impede o verdadeiro diálogo nacional. “Todos somos poucos para fazermos um país melhor”, escreve. E deixa a questão em aberto: “Quem quer ajudar o povo?”

A reflexão de Rafael Marques surge num contexto de crescente frustração popular, instabilidade institucional e exigência de maior transparência e participação democrática em Angola.

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