O ambiente político no seio do MPLA intensificou-se com a apresentação formal de uma proposta de suspensão do atual presidente do partido, João Manuel Gonçalves Lourenço. A iniciativa partiu de Valdir de Jesus do Sacramento Cónego, membro do Comité Central e pré-candidato à liderança do partido.
Num documento remetido à Secretária-Geral do Comité Central e divulgado entre os seus membros, Cónego fundamenta o pedido com base nos Estatutos do MPLA e no respetivo Código de Ética Partidária. Especificamente, faz referência à alínea m) do artigo 82.º, que prevê a possibilidade de suspensão do presidente com aprovação de dois terços dos membros do Comité Central.
De acordo com o conteúdo da proposta, João Lourenço é acusado de violar sistematicamente os estatutos do partido, de usar de forma indevida as suas prerrogativas enquanto líder partidário e chefe de Estado, e de manter uma conduta que, segundo o proponente, compromete a imagem do MPLA e da República de Angola.
Um dos episódios citados é o VIII Congresso Extraordinário do partido, ocorrido em dezembro de 2024, que, conforme a acusação, teria sido manipulado para assegurar a permanência de Lourenço na liderança e garantir o controle sobre a escolha do candidato presidencial de 2026.
Valdir Cónego também menciona declarações feitas por João Lourenço durante uma entrevista à Televisão Pública de Angola, em 9 de junho deste ano. Nessa ocasião, o presidente teria, segundo o proponente, desvalorizado outros militantes e desestimulado publicamente a apresentação de candidaturas alternativas à liderança do partido.
“Fica evidente que o presidente do partido não aceita concorrência à liderança, numa atitude de imposição incompatível com os princípios democráticos internos”, afirma Cónego no documento.
O militante vai mais longe, apontando uma alegada ineficácia da Comissão de Disciplina, Ética e Auditoria do Comité Central, que, segundo ele, só age contra membros com menor influência dentro do partido.
Como desfecho, Valdir Cónego sugere que o Conselho de Honra do MPLA recomende a demissão voluntária de João Lourenço, em nome da estabilidade partidária e do interesse nacional.
A proposta poderá ser analisada na próxima reunião do Comité Central, embora até ao momento não tenha havido pronunciamentos oficiais por parte da direção do MPLA ou do Presidente João Lourenço.