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Anamalala: O novo Partido de Venâncio Mondlane está a Incomodar a FRELIMO?

by REDAÇÃO

Em Moçambique, um novo ator político começa a ganhar espaço e atenção nacional: o Anamalala, partido liderado por Venâncio Mondlane, já está a provocar reações nos bastidores do poder, mesmo antes de ser legalizado formalmente. O nome do partido – que na língua macua significa “acabou”, “basta” ou “vai acabar” – tornou-se um símbolo de protesto e mudança entre jovens e eleitores descontentes com o status quo.

Criado a 3 de abril de 2025, o Anamalala – Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo ainda aguarda validação por parte do Ministério da Justiça, mas a sua simples existência já gera desconforto visível, sobretudo dentro da FRELIMO, o partido atualmente no poder.

Segundo o semanário Canal de Moçambique, o Ministério da Justiça teria solicitado a alteração do nome “Anamalala”, alegando que não é permitido nomear partidos com palavras de línguas nacionais, sob o argumento de que isso poderia “promover o divisionismo” e ir contra a “unidade nacional”.

Essa decisão, ainda informal, gerou polêmica e levantou críticas quanto ao respeito à diversidade linguística no país. A Constituição de Moçambique, no seu artigo 9.º, determina que o Estado deve valorizar as línguas e culturas nacionais, o que coloca em xeque a legitimidade dessa orientação do Ministério.

A crescente popularidade de Mondlane – impulsionada pela sua liderança nas contestações eleitorais de 2024 e pelo apoio massivo entre os jovens – pode estar a perturbar o equilíbrio político tradicional. Para muitos analistas, a pressão para mudar o nome do partido não passa de uma manobra política para enfraquecer um projeto que ameaça as estruturas instaladas.

O cientista político Justus Nauva, entrevistado pela DW África, lembra que é comum que partidos no poder reajam para proteger sua hegemonia quando um novo concorrente com forte apelo popular surge.

“Quando os detentores do poder percebem que há um adversário que pode comprometer a sua base de apoio, não hesitam em usar todos os meios ao seu alcance para neutralizá-lo”, afirmou Nauva.

Apesar do entusiasmo gerado, alguns especialistas alertam que ainda é cedo para prever uma mudança radical no xadrez político. Para Nauva, o partido de Mondlane tem potencial de crescimento, mas falar numa transformação completa é ainda prematuro.

“Mudar é possível, sim. Dizer que mudará completamente o cenário político é mais complexo. Mas é um projeto com potencial real.”

O nome Anamalala já foi entoado em manifestações, virou palavra de ordem e está intimamente ligado à imagem de resistência e inconformismo. Isso explica, em parte, o seu impacto simbólico – e por que a FRELIMO estaria preocupada.

A legalização ou não do Anamalala, e a decisão sobre a manutenção do seu nome, vão servir como teste à maturidade democrática moçambicana. Será que o país está pronto para acolher novas forças políticas com origens populares e identitárias regionais? Ou continuará a erguer barreiras contra qualquer expressão que desafie a ordem estabelecida?

Uma coisa é certa: Venâncio Mondlane e o seu projeto já deixaram de ser apenas uma promessa – tornaram-se um sinal claro de mudança social e política em Moçambique.

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