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Expulsão de jornalistas da RTP em Angola reacende debate sobre liberdade de imprensa

by REDAÇÃO

A recente expulsão de dois jornalistas da RTP do Palácio Presidencial, em Luanda, trouxe à tona um problema que, segundo especialistas da área, tem se repetido de forma preocupante em Angola: a limitação do acesso da imprensa aos centros de poder.

Apesar de os profissionais da televisão pública portuguesa estarem devidamente credenciados, foram retirados do local sem explicações claras, gerando reação imediata de sindicatos de jornalistas em Angola e em Portugal, além de um posicionamento oficial do governo português.

Para Luísa Rogério, presidente da Comissão de Carteira e Ética dos Jornalistas de Angola, este episódio não é isolado. Segundo ela, expulsões e bloqueios similares têm ocorrido com frequência, principalmente contra jornalistas de veículos privados nacionais que tentam cobrir a agenda do presidente ou do governo.

Contudo, o fato de agora envolver profissionais de um meio de comunicação estrangeiro como a RTP conferiu maior visibilidade internacional ao problema. “É um episódio grave, mas por envolver a imprensa portuguesa, acabou por atrair atenção da mídia internacional. Isso pode levar o Executivo a refletir sobre suas práticas em relação à liberdade de imprensa”, afirmou Rogério.

Ela também lembrou que, apesar de Angola ter subido alguns degraus no ranking da organização Repórteres Sem Fronteiras, a realidade no país ainda impõe grandes desafios à imprensa livre.

Em nota publicada na sua página oficial no Facebook, a Presidência da República de Angola argumentou que a RTP vinha acompanhando, quase com exclusividade, as ações do governo. No entanto, segundo a publicação, a decisão de restringir o acesso se deve a uma alegada linha editorial tendenciosa adotada pela emissora nos últimos tempos.

Luísa Rogério alerta que esse tipo de exclusão não prejudica apenas a liberdade de imprensa, mas também compromete a qualidade e a credibilidade da informação no país. Ao bloquear o acesso de órgãos privados e independentes, o governo acaba incentivando a circulação de informações não verificadas, suposições e até fake news.

“O Presidente da República governa para todos. É fundamental garantir o acesso aos jornalistas credenciados, independentemente do órgão que representam”, defendeu a jornalista. Ela ainda destacou que negar o acesso às fontes primárias apenas empurra os profissionais para a especulação, alimentando boatos e desinformação.

Para os especialistas e entidades da classe jornalística, o momento é crucial para que o governo angolano reveja suas posturas frente à imprensa. O acesso transparente às instituições e à informação não deve ser visto como um privilégio, mas como um direito democrático e um pilar essencial da boa governança.

O caso envolvendo os jornalistas da RTP serve como alerta: a liberdade de imprensa não pode ser seletiva nem condicionada. Para que Angola avance em direção a uma sociedade mais aberta e democrática, é fundamental garantir o exercício pleno e igualitário do jornalismo, nacional e internacional, dentro do país.

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