O que aconteceu hoje na província do Bengo ultrapassa todos os limites aceitáveis numa sociedade que se quer democrática. Caminhoneiros da chamada Frente Norte foram brutalmente agredidos e detidos durante uma manifestação pacífica no bairro dos Lisbongos. Estavam ali apenas para exigir aquilo que deveria ser um direito garantido: justiça e liberdade.
Desde dezembro passado, mais de 30 motoristas estão presos na província do Zaire — sem qualquer acusação formal, sem julgamento, sem acesso a advogados ou a visitas familiares. São homens simples, trabalhadores, que hoje enfrentam um cenário de total abandono institucional, como se seus direitos fundamentais não existissem.
A repressão violenta desta manhã escancarou uma realidade inquietante: o Estado criminaliza o cidadão que carrega alguns bidões de combustível como reserva para longas viagens em regiões sem postos de abastecimento, enquanto ignora escândalos de corrupção envolvendo figuras públicas denunciadas por membros do próprio governo.
Essa seletividade na aplicação da lei revela um sistema desigual e injusto, onde quem está em baixo sofre as consequências de um modelo que protege os verdadeiros infratores. A repressão aos caminhoneiros não atinge apenas uma classe — ela atinge toda a cadeia de abastecimento, trava o comércio entre províncias e condena milhares de famílias à instabilidade económica.
A Frente Norte dos Caminhoneiros mantém-se firme, decidida a não recuar até que a justiça prevaleça. Eles exigem o fim das detenções arbitrárias, o respeito pelos seus direitos constitucionais e a responsabilização de quem verdadeiramente coloca o país em risco.
Este não é apenas um protesto de estrada — é uma chamada de atenção a todos. O silêncio da sociedade é perigoso. O que hoje acontece com os caminhoneiros, amanhã pode bater à porta de qualquer cidadão trabalhador.
Cabe agora à sociedade civil, à imprensa, às organizações de direitos humanos e à comunidade internacional unir-se neste apelo. A dignidade não se negocia. A justiça não pode ser seletiva. E a liberdade, uma vez ameaçada, põe todos em risco.