Angola, depois do estrondoso colapso do Banco Espírito Santo (BES) em Portugal, não poderia ficar atrás. Sua filial tropical, o Banco Espírito Santo Angola (BESA), seguiu o mesmo caminho e afundou-se em solidariedade. O Banco Nacional de Angola (BNA), sob a liderança incansável de José Massano, também conhecido como o “super ministro”, decidiu, em outubro de 2014, reorganizar o tabuleiro bancário do país. Esse movimento incluiu novos acionistas, como a Sonangol e o Novo Banco português, enquanto o grupo GENI, vinculado ao general Leopoldino de Nascimento “Dino” – atualmente réu em um processo de lesa-pátria – ficou confortavelmente acomodado na jogada.
Nessa reforma financeira, o experiente bancário Álvaro Madaleno, também conhecido como “Sobrinho”, foi afastado. A alegação foi provavelmente de excesso de competência, embora muitos se perguntem se a questão foi realmente essa.
Avançando alguns anos, chegamos a 2022. O BNA, com Massano à frente, seguiu uma estratégia ousada e transformou depósitos fictícios em “capital”, criando ações para um banco falido. Esse movimento, embora arriscado, parecia parte de um plano para resolver a crise bancária, mas a realidade revelou que transformar dinheiro invisível em ações de um banco endividado não era, na verdade, a melhor ideia.
Nesse processo, Massano colocou no comando do Banco Económico uma série de amigos e aliados de longa data, como Carlos Duarte, João Quintas e Victor Cardoso, todos conhecidos por sua ligação com o “super ministro”. No entanto, a gestão desses nomes foi um desastre, e, ao se depararem com o tamanho do buraco financeiro, decidiram abandonar o barco antes que afundassem junto. O enredo parecia de uma novela de baixa qualidade, e o final não decepcionou.
O Banco Económico, em um negócio com cheiro de família, vendeu sua sede à ANPG por 100 milhões de dólares, com a curiosa participação de Natacha Massano, esposa de José Massano e então administradora da ANPG. Embora essa transação tenha sido vantajosa para o banco, o dinheiro arrecadado não resolveu os problemas financeiros do Banco Económico. Em vez disso, foi destinado a cobrir uma dívida com, adivinhem, o próprio BNA.
Enquanto isso, o BNA, sempre tão rigoroso, não hesitou em fechar bancos estáveis como o Banco Postal e o Banco Mais, ligados à família do ex-presidente José Eduardo dos Santos (JES). Estes, apesar de estarem em uma situação de estabilidade financeira, não conseguiram cumprir com o prazo para aumento de capital, o que lhes custou o fechamento. No entanto, a questão que fica no ar é: a estabilidade financeira realmente importa para o BNA ou o que prevalece é o cumprimento do cronograma imposto pela instituição?
Surpreendentemente, o Banco Económico, atolado em dívidas e com um futuro incerto, continua a receber um tratamento privilegiado por parte do BNA, que parece ter uma visão bem particular de como resolver os problemas financeiros do país. Contudo, questões fundamentais permanecem sem resposta: Quanto custará essa “brincadeira” ao Estado? O que, de fato, está por trás do gigantesco buraco financeiro do Banco Económico? E, o mais importante, onde está o dinheiro dos depósitos das empresas estatais?
Mas não se preocupem, leitores. O nosso “visionário” José Massano já tem uma solução inovadora em mente, algo que, até então, nunca se viu em Angola: a criação de dois tipos de bancos, um bom e outro mau. Como sempre, a solução encontrada é reciclar velhas ideias portuguesas para tentar resolver problemas que, aparentemente, só aumentam.
O enredo dessa história ainda está longe de terminar. O sistema financeiro angolano segue em sua dança de cadeiras, com personagens poderosos e decisões questionáveis que moldam o destino de milhares de angolanos e de um sistema que ainda busca se reerguer das cinzas de um passado conturbado.