Tiago André Lopes, especialista em relações internacionais e professor da Universidade Lusíada, afirma que “a paz sem os dois Estados é inviável”. Para ele, qualquer tentativa de resolução do conflito que não envolva a criação de um Estado palestiniano ao lado de Israel resultará em frustração das legítimas expectativas do povo palestiniano. Essas expectativas remontam aos anos 30, quando a primeira proposta de divisão da Palestina foi apresentada pela Comissão Peel, em 1937.
A ideia de dividir o território entre judeus e árabes, com a criação de dois Estados, foi formalmente discutida pela ONU em 1947, mas, como sabemos, não levou à paz. Em vez disso, gerou a guerra e a criação de Israel, que assumiu o controle de grande parte do território destinado ao Estado árabe, incluindo Jerusalém Ocidental. Desde então, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza permanecem sob ocupação militar israelita, o que continua a ser um obstáculo crucial para a paz.
Embora alguns sugiram a possibilidade de um Estado plurinacional, Francisco Pereira Coutinho, especialista em direito internacional, acredita que essa ideia é “impossível e fantasiosa”. O governo israelita, segundo Coutinho, jamais aceitaria um Estado em que os palestinianos formassem a maioria. Por isso, a única solução viável seria a criação de dois Estados soberanos, um judeu e um palestiniano. Contudo, essa solução só seria possível se houvesse o fim da ocupação e um reconhecimento sério por parte de Israel da possibilidade de coexistência pacífica.
Infelizmente, no momento atual, a solução de dois Estados parece estar cada vez mais distante. A comunidade internacional, representada por diversos países, incluindo a União Europeia e a Noruega, continua a apoiar essa solução, mas a postura do governo israelita, liderado por Netanyahu, complica a implementação de qualquer plano político nesse sentido.
A comunidade internacional tem sido clara ao apoiar a solução de dois Estados. Em uma recente reunião em Oslo, na Noruega, delegados de mais de 80 países discutiram maneiras de avançar para a criação dessa solução, com o objetivo de garantir um cessar-fogo em Gaza, libertar reféns e promover a paz de forma duradoura. Contudo, como alertou Espen Barth, ministro dos Negócios Estrangeiros da Noruega, um cessar-fogo por si só não resolverá o conflito. “Precisamos de ação, não apenas palavras”, afirmou.
A União Europeia também reafirmou seu compromisso com a solução dos dois Estados como a única forma de garantir uma paz duradoura. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, destacou a importância de uma solução justa e abrangente que envolva tanto israelitas quanto palestinianos.
Apesar dos esforços internacionais, a situação parece cada vez mais complicada. Tiago André Lopes lembra que, com Netanyahu no poder, a solução de dois Estados está fora de questão, uma vez que ele é amplamente contra essa ideia e os acordos de Oslo. Se o governo israelita continuar a rejeitar essa solução, a paz no Médio Oriente ficará comprometida, e a radicalização do processo palestiniano será uma consequência previsível.
A administração americana, sob o comando de Donald Trump, também dificultou a adoção dessa solução, especialmente ao transferir a embaixada dos EUA para Jerusalém, uma medida que enfureceu muitos palestinianos. No entanto, Lopes acredita que uma solução política poderia ser possível se houvesse uma garantia de segurança por parte das monarquias árabes, mas a extrema-direita israelita se opõe fortemente a qualquer ideia de um Estado palestiniano.
Com o anúncio de um cessar-fogo temporário, a situação no Médio Oriente parece estar em uma fase de estagnação. Embora as esperanças para uma resolução do conflito permaneçam, especialistas como Tiago André Lopes e Francisco Pereira Coutinho são céticos quanto à possibilidade de uma paz duradoura enquanto a criação de dois Estados continuar a ser uma opção marginalizada.
O futuro do conflito israelita-palestiniano depende, em grande parte, de uma mudança de postura tanto de Israel quanto da comunidade internacional. Sem uma pressão global substancial para a implementação da solução de dois Estados, é provável que a paz continue sendo um objetivo distante e difícil de alcançar.