Com o passar das festas de Natal e o assentar da poeira, surge a oportunidade de refletir sobre os acontecimentos do recente Congresso Extraordinário do MPLA e suas consequências para o futuro.
Fonte: Maka Angola
João Lourenço saiu vitorioso do Congresso. Revisou estatutos, fez nomeações e afastamentos conforme sua vontade. Entre as mudanças, destaca-se a nomeação do general Pedro Neto para a comissão de disciplina, consolidando seu controle sobre o partido. Para a oposição interna, o caminho ficou mais restrito, exigindo novas formas de atuação, menos partidárias e mais voltadas para a sociedade civil.
Apesar dessas conquistas, a vitória de Lourenço pode ser comparada a um castelo de areia: impressionante, mas vulnerável à primeira onda. Experiências históricas, como as reviravoltas no Partido Comunista da União Soviética, mostram que unanimidades são voláteis. A transição de poder entre José Eduardo dos Santos e João Lourenço seguiu um padrão semelhante, com antigos apoiadores rapidamente mudando de lado.
Se João Lourenço ganhou o MPLA, não se pode dizer o mesmo em relação ao povo. Como reconheceu Norberto Garcia, assessor presidencial, o partido tem perdido a capacidade de materializar os sonhos das pessoas. E sem o apoio popular, nenhuma vitória partidária é suficiente.
A vitória de Lourenço no Congresso pode lembrar a história de Pirro, rei grego que venceu os romanos a um custo tão alto que a própria sobrevivência de seu exército foi comprometida. Assim como os romanos, que renovavam suas fileiras e se fortaleciam após cada derrota, o povo angolano aguarda o momento de realizar seus sonhos.
O Congresso poderia ter sido uma oportunidade de abertura e renovação estrutural. Era o momento ideal para apresentar novas ideias, programas e desafios. Também poderia ter incluído a participação da sociedade civil — professores, médicos, economistas, artistas e outros especialistas —, contribuindo com diagnósticos e soluções para os problemas do país. Um verdadeiro aggiornamento, como ocorreu na Igreja Católica durante o Concílio Vaticano II.
Infelizmente, nada disso aconteceu. Nem ideias inovadoras, nem inclusão da sociedade civil, nem modernização. O MPLA parece continuar no caminho de desconexão com o povo.
O MPLA enfrenta um dilema: sem aumentar sua base de apoio, dificilmente vencerá futuras eleições. O passado glorioso do partido não garante mais sua legitimidade no presente. É necessário um olhar atento às demandas da população e uma abertura à sociedade.
A mensagem silenciosa que emerge do Congresso não está nas nomeações ou nos estatutos, mas na incapacidade de reconhecer a necessidade de reconectar-se com o povo. Sem essa reconexão, o futuro do MPLA pode ser apenas uma repetição de seu passado, sem a promessa de avanço real para Angola.