1. A semana finda fica marcada pelo anúncio da realização de um Congresso Extraordinário do partido MPLA, um histórico gigante do seguimento institucional-político em África, aprazado para Dezembro próximo, um Congresso que em condições normais devia ser para arrumação prévia da casa, não para arriscadas e desesperadas manobras políticas, voltadas ao alcance de fins inconfessos no “CONGRESSO DE FACTO” (O Ordinário), a ter lugar em 2026, que irá eleger o próximo Presidente do MPLA, e Cabeça-de-lista pelos Camaradas às próximas eleições gerais [presidenciais] em Angola.

Fonte: Club-k.net

2. A generalidade dos analistas políticos da nossa praça, dentre os quais destaco José Gama (do Club-K) e William Toné (Folha 8, são quase que unânimes em reconhecer que ao convocar um Congresso Extraordinário para Dezembro, o Presidente do MPLA, João Manuel Gonçalves Lourenço, num acto de desespero, pretenderá de certeza:

• Dividir as tarefas/actos/acções do próximo Congresso Ordinário do MPLA [que elege o próximo Presidente] em duas partes (realizando a primeira já em Dezembro próximo);

• Pretenderá também forçar já em Dezembro tomada de decisões que n’altura do próximo Congresso Ordinário já não as iria ser capaz de fazer vincar, em razão do facto de, até lá, estar politicamente fragilizado, quase que despido de poderes, pelo facto de em 2026 encontrar-se a pique, na fase descendente do seu segundo e último mandato enquanto Presidente da República;

• Por outro lado, é notório que o xadrezista terá convocado o Congresso Extraordinário visando INCLINAR O CAMPO, num momento em que ainda detém robustos poderes, cumulativamente nas vestes de Presidente da República e do MPLA, a favor do futuro candidato de sua preferência, porém porque os factos andando por aí aos montes, falam por si, é um dado adquirido que quaisquer que sejam as manobras engendradas no CE de Dezembro próximo, assente na prática de actos e movimentações estranhas voltadas a uma real e/ou efectiva materialização no Congresso Ordinário de 2026, tais acções irão cair em saco roto em razão do facto de João Lourenço ter desde a assunção da liderança do MPLA transformado o partido dos Camaradas numa extensa manta de retalho, grande parte das quais contestatárias, ainda que à surdina, a sua liderança, que vêm no próximo Congresso Ordinário do MPLA o oportuno momento para os devidos ajustes de contas, sendo certo que os grupos em referência irão criar bolsas de resistência humilhando nas urnas o “Candidato de João Lourenço” a exemplo do que acaba de acontecer nas hostes da FRELIMO, Moçambique, em que Roque Silva, o candidato apadrinhado pelo Presidente cessante foi duramente cilindrado nas urnas por Daniel Chapo.

Portanto o recomendável para JLourenço a essa altura era a criação de condições para que no próximo Congresso Ordinário os candidatos a Presidente do MPLA possam concorrer em pé de igualdade, sob pena de, o candidato de sua preferência uma vez copiosamente derrotado nas urnas, JLourenço ver-se-ia forçado a abandonar a liderança do partido pelas portas do fundo.

PERDÃO, COESÃO INTERNA DO MPLA COMO FACTORES DE DESENVOLVIMENTO DO PAÍS

3. Pode parecer que não, mas o nível de divisão interna no seio do MPLA protagonizada pelo actual Presidente é em grande medida o busílis do estado de coisas lastimável a que o país se encontra voltado pois:

• Quer gostemos quer não, o MPLA, além de ser a força política governante é o típico partido que pela longevidade governativa, quer estrutural, quer politicamente, nível de enraizamento institucional, confunde-se vezes sem conta com o Estado;

• Portanto se o partido MPLA goza de boa saúde política, assente numa sólida coesão interna, o país mais facilmente voltaria a trilhar o caminho do desenvolvimento aos mais diversos níveis, sendo certo que do ponto de vista acima descrito, dentre os putativos candidatos a Presidente do MPLA o General Francisco Higino Lopes Carneiro é o que de longe mais valências se lhe reconhece, com provas dadas no teatro das operações, em matéria negocial, reconciliatória e congregação de vontades desavindas tanto do ponto de vista político, como no campo militar e até mesmo económico, não restando dúvidas de que HC teria o traquejo necessário para congregar a partes desavindas do partido, vencer as eleições gerais aprazadas para 2027 e por arrasto colocar Angola nos trilhos do desenvolvimento.

Nota: O seu nível de elasticidade negocial, reconciliatória e congregação de vontades é tão vasto de tal modo que o General 4×4, segundo ouve-se, é amplamente respeitado por históricos dirigentes do partido UNITA com os quais cruzou no teatro negocial.

Smith Adebayo Chicoty,

In Reflexão Jurídico-Política da Semana, 28 | 06 | 24, Porto Amboim.