A duas semanas das eleições europeias, os candidatos divergiram quanto à dimensão das despesas da UE, de investimentos ao nível da defesa aérea europeia e da imposição de tarifas punitivas contra a China por causa de concorrência desleal.
Os candidatos dos partidos para a presidência da Comissão Europeia discutiram a dimensão do orçamento do bloco, que ronda os mil milhões de euros. A atual presidente e candidata pelo centro-direita, Ursula von der Leyen, sugeriu que um novo sistema europeu de defesa aérea seja financiado a nível comunitário e que se apliquem novas tarifas aduaneiros aos produtos chineses.
Sandro Gozi, eurodeputado francês do partido Renovar a Europa (do presidente Emmanuel Macron) e co-candidato à presidência pelos liberais, e Anders Vistisen, eurodeputado dinamarquês de extrema-direita que está no grupo Identidade e Democracia (mas não é candidato à presidência), não estão de acordo quanto à forma de ajustar as finanças da UE.
“Não se corta o orçamento, aumenta-se”, disse Gozi, afirmando que novas fontes de receita da UE, como um imposto sobre os resíduos alimentares, poderiam ajudar a pagar novos desafios como as alterações climáticas e a segurança: “Não se pode conduzir em direção ao futuro olhando para o espelho retrovisor”, acrescentou.
As despesas de Bruxelas ascenderam a quase 250 mil milhões de euros em 2022 e a definição de um novo quadro orçamental para sete anos (2027-2033) será uma das tarefas politicamente mais desafiantes para a próxima Comissão Europeia (2024-2029).
A agricultura e a coesão desempenharão um papel importante, sem dúvida, mas temos de nos concentrar no que é mais importante neste momento.
A abordagem de Gozi foi amplamente apoiada pelo candidato socialista a presidente da Comissão Europeia, Nicolas Schmit (atual comissário europeu para Emprego e Direitos Sociais), que argumentou que o atual orçamento “não é enorme” e que a construção da defesa da Europa na sequência da agressão russa “não será possível sem algum endividamento europeu”.
Von der Leyen foi menos precisa quanto às suas intenções, sugerindo que poderia estar disposta a reduzir os subsídios agrícolas maisdispendiosos e a ajuda às regiões mais pobres, para dar prioridade a novas áreas de despesa.
“A agricultura e a coesão desempenharão um papel importante, sem dúvida, mas temos de nos concentrar no que é mais importante neste momento”, disse von der Leyen, promovendo um novo projeto potencialmente controverso para um bloco que tradicionalmente se tem mantido afastado das questões militares.
“Defenderia, por exemplo, um escudo de defesa aérea como projeto europeu comum”, disse von der Leyen, que foi ministra da Defesa da Alemanha, uma iniciativa que, a ser concretizada, poderia exigir um financiamento comunitário significativo.
Vistisen, por sua vez, prometeu reduzir o quadro de funcionários da UE em dez mil pessoas e abolir metade das agências do bloco – embora não tenha sido informado sobre as poupanças de custos exactas que espera obter com essas mudanças.
Guerra comercial?
Os candidatos também se confrontaram sobre a forma de enfrentar as práticas comerciais agressivas de Pequim – com von der Leyen a sugerir que iria divergir dos EUA, que na semana passada impuseram fortes aumentos de tarifas sobre produtos chineses, incluindo chips, painéis solares e veículos eléctricos.
“Partilhamos algumas das preocupações dos nossos homólogos [norte-americanos], mas temos uma abordagem diferente, uma abordagem muito mais adaptada”, afirmou von der Leyen, sublinhando a investigação que a UE leva a cabo para determinar se as práticas comerciais da China cumprem as normas mundiais.
“Se se confirmarem as minhas suspeitas de que existem subsídios chineses, posso garantir que o nível dos direitos que imporemos será correspondente ao nível dos prejuízos”, afirmou von der Leyen.
De uma forma geral, o debate foi menos inflamado do que o anterior, realizado a 29 de abril em Maastricht, no qual von der Leyen também enfrentou Schmit e Vistisen sobre temas como a Ucrânia e Gaza.
O partido Renovar a Europa parece ter afastado a sua anterior representante, Marie-Agnes Strack-Zimmerman, depois do desempenho hesitante que teve em abril, e optou agora pela muito mais combativo Gozi.
Enquanto Schmit invocou repetidamente Jacques Delors (o socialista francês que liderou a Comissão nos anos 80 e 90), Gozi atacou o historial dos seus adversários.
A falta de progressos na reforma do mercado de capitais da UE é “o maior fracasso do PPE”, disse Gozi, citando o grupo político de centro-direita a que pertence von der Leyen, afirmando que as promessas de novas reformas eram “demasiado pouco e demasiado tarde”.
Já Vistisen afirmou querer forçar a venda ou a proibição da aplicação da rede social digital chinesa TikTok, mas Gozi acusou-o de se opor à legislação da UE conhecida como Lei dos Serviços Digitais, destinada a controlar as grandes plataformas online.
Os europeus vão às urnas de 6 a 9 de junho, para eleger os 720 deputados que terão assento no Parlamento Europeu durante cinco anos – e o resultado poderá também determinar quem assume o comando do braço executivo da UE.
As sondagens mais recentes sugerem que o Partido Popular Europeu (PPE), de von der Leyen, será a maior bancada do Parlamento Europeu, o que a coloca numa posição privilegiada para assegurar um segundo mandato.
Mas o PPE terá provavelmente de fazer uma coligação de outros grupos políticos para garantir uma maioria que vote a favor de von der Leyen, caso esta consiga, primeiro, o apoio dos líderes dos governos dos 27 países representados no Conselho Europeu.
Na quinta-feira, estes candidatos, a que se juntarão os grupos de extrema-esquerda e os verdes, vão estar frente a frente num “debate da Eurovisão” transmitid.