Diversas companhias de navegação suspenderam as operações através do estreito de Bab el-Mandeb e redirecionaram a rota para o Cabo da Boa Esperança, o que acrescentou atrasos de até três semanas no transporte de e para a Europa – além de um aumento de cinco vezes nos custos dos contentores, os produtos frescos têm agora maior probabilidade de apodrecer no caminho.
“Existe um risco significativo”, referiu Marco Forgione, diretor-geral do Instituto de Exportação e Comércio Internacional, ao jornal ‘POLITICO’, citando uma série de categorias de produtos além de frutas e vegetais – da carne aos cereais, passando pelo chá e café, se a perturbação continuar, “destruirá a economia alimentar em geral”, indicou o responsável, salientando que o processamento é outro elo fraco, com as entregas desordenadas de óleo de palma a atrasar a preparação de alimentos de maior valor.
Os exportadores são particularmente afetados nos países do sul da Europa, como Itália, Grécia e Chipre. Dado que as suas cargas têm agora de sair do Mediterrâneo para oeste e percorrer o longo caminho até ao Médio Oriente e à Ásia, muitos estão a lutar para levar produtos perecíveis para os mercados estrangeiros a tempo, colocando em perigo bens no valor de milhares de milhões de euros.
“O prolongamento dos prazos pode criar problemas na preservação dos produtos frescos, com o risco de perder fatias importantes do mercado”, alertou a Coldiretti, o maior lobby agrícola de Itália.
Em muitos casos, “o prazo de validade dos produtos frescos não permite prolongar a viagem em 15 e 20 dias”, garantiu Cristian Maretti, presidente da Legacoop Agroalimentare, que representa as cooperativas agrícolas e alimentares italianas, em declarações à agência ‘Ansa’.
No entanto, outros produtos já foram derrotados. As exportações italianas de maçãs para a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, avaliadas em cerca de 400 milhões de euros por ano, foram interrompidas durante o seu pico de frescura, o mesm acontecendo com as peras, o repolho e a couve-flor. “Num setor dominado pela sazonalidade da produção, a dimensão dos danos dependerá da duração do bloqueio”, observou Maretti.
“Por enquanto, os efeitos da crise não são um alerta vermelho, mas precisamos avançar com antecedência e não esperar pelo curso dos acontecimentos”, frisou Giovanna Ferrara, presidente da associação empresarial italiana Unimpresa.
Questionados sobre se os consumidores enfrentarão prateleiras vazias, os supermercados europeus minimizaram o impacto dos choques. “O fornecimento de mercadorias às lojas Lidl está geralmente garantido”, afirmou o grupo Schwarz, líder retalhista alimentar alemão, em comunicado ao ‘POLITICO’. Já a francesa Danone negou “qualquer impacto significativo no curto prazo” da interrupção do transporte marítimo.