O banco central angolano “BNA”, não mexe nas taxas directoras mas eleva o coeficiente de reservas obrigatórias em moeda nacional, com objectivo de travar liquidez dentro do sistema bancário e desacelerar a taxa de inflação, que fechou em 2023 acima dos 20%.
Entretanto, o aumento destas reservas sinaliza que os bancos terão menos dinheiro para emprestar aos agentes económicos, tornando o crédito mais caro.
Depois de ser obrigado a apertar a política monetária em Novembro, em função da aceleração da taxa de inflação que se verificou ao longo do ano passado, o Comité de Política Monetária (CPM) do Banco Nacional de Angola (BNA) optou pela manutenção das taxas de juro directoras, na 115ª reunião ordinária do comité realizada na semana passada. Por outro lado, o Banco Central aumentou o coeficiente das reservas obrigatórias em moeda nacional em dois pontos percentuais para 20%, o segundo aumento consecutivo.
Com isso, o BNA pretende enxugar liquidez na economia para mitigar as pressões inflacionistas, já que em 2023 os preços aceleraram e furaram as metas do BNA e do Governo ao fixar-se em 20,01% Em termos práticos, as reservas obrigatórias correspondem à parcela dos depósitos de clientes que os bancos comerciais são obrigados a depositar no BNA (em moeda nacional e estrangeira).
Quanto maior o coeficiente de reservas obrigatórias, menos dinheiro os bancos têm para emprestar aos agentes económicos. De recordar que em Novembro o Banco Central eliminou a taxa de custódia sobre o excesso de reservas livres das instituições bancárias depositadas no BNA, o que também retira liquidez da economia. No final das contas, a ideia é utilizar estes instrumentos de política monetária para estancar o aumento generalizado dos preços.
Para Heitor Carvalho, director do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada (CINVESTEC), o aumento do coeficiente de reservas obrigatórias em moeda nacional representa também um aperto da política monetária, “sugando liquidez do sistema bancário”, que seria necessária para aumentar o crédito à produção. “A inflação em Angola não tem quase nunca origem monetária.
A origem da inflação nos últimos tempos tem a ver com a redução das importações, sem a necessária compensação pelo aumento da produção interna”, argumentou. Assim, Heitor Carvalho aponta que uma das formas que a política monetária pode utilizar para o combate à inflação é através do aumento do crédito à produção, que por sua vez vai aumentar a moeda em circulação, mas será compensada pelo aumento dos produtos transaccionados no mercado.
Já o economista Wilson Chimoco argumenta que este aumento do coeficiente representa menos liquidez para o mercado cambial e, consequentemente, menor pressão sobre as taxas de câmbio e, por arrasto, sobre o custo dos bens importados.
Por isso, entende que “haverá menor disponibilidade de recursos para os bancos fazerem intermediação bancária (compra de títulos e de divisas), os bancos apenas terão apetência para conceder crédito à economia ao abrigo do aviso 10 (que os obriga a conceder crédito em função das reservas “estacionadas” no BNA) para libertar liquidez, e o tesouro Nacional terá de apresentar-se nos leilões de títulos com taxas de juro mais atractivas, uma vez que haverá pouca liquidez para a diferentes opções de investimentos dos bancos. Por sua vez, Alberto Vunge entende que essa visão monetarista do BNA leva-o a secar alguma liquidez para frear a pressão sobre a procura de bens e serviços.
Por outro lado, explica que convém ao Banco Central tomar medidas que reduzam o caudal da oferta de kwanzas para “inibir alguma pressão sofre a oferta no mercado cambial”, num cenário em que a oferta de divisas está em estado de choque, assim “administra-se” por essa via a taxa câmbio. “O BNA quer secar kwanzas porque não há oferta de divisas para suportar a procura por importação.
Dependendo da magnitude desta desigualdade desfavorável para a oferta, no mercado cambial, pode significar o controlo da taxa de câmbio dentro dos níveis que não pressione a inflação, ou pode significar escassez de bens e produtos de importação”, apontou.