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Mundo terá consumido uma média de 107,1 milhões de barris de petróleo por dia em 2023

Após dois anos em alta, o petróleo desvalorizou em 2023 e as perspetivas continuam débeis para 2024, com o aumento da produção nos EUA a compensar os cortes da OPEP e o aumento fraco da procura.

O mundo terá consumido uma média de 107,1 milhões de barris de petróleo por dia em 2023, o que representa um novo recorde e traduz um incremento de 2,3 milhões face ao ano anterior. Em 2024 será atingido um novo máximo, mas o crescimento vai abrandar para metade (1,1 mil milhões de barris por dia). As estimativas são da Agência Internacional de Energia (AIE) e ilustram a pressão negativa que as perspetivas para a evolução da procura têm exercido sobre as cotações da matéria-prima, ofuscando os esforços da Arábia Saudita e outros produtores da OPEP para restringirem a oferta.

No final de 2022, o petróleo estava a registar uma tendência altista, levando muitos analistas a estimar que seria uma questão de tempo até o barril regressar à barreira dos 100 dólares, sobretudo porque a China estava a acabar com os confinamentos da pandemia e a reabertura da segunda maior economia do mundo iria fazer a procura global disparar.

O Brent, petróleo que é negociado em Londres e serve de referência às importações portuguesas, esteve por várias vezes em 2023 muito próximo da fasquia dos três dígitos, mas nunca a superou, demonstrando que os fundamentais do mercado petrolífero permanecem fracos. A recuperação da China foi uma deceção, a força do dólar retirou atratividade às matérias-primas e os sinais de abrandamento da economia global também pressionaram as cotações.

Queda ligeira em ano de altos e baixos

Depois de dois anos seguidos de valorizações (50% em 2021 e 10,4% em 2022), o Brent acumulou uma desvalorização de 10,3% em 2023, fechando o ano nos 77 dólares. Uma variação ainda assim moderada, que esconde um ano de altos e baixos nas cotações da matéria-prima que terminou com tendência negativa.

Entre novembro de 2022 e o final de junho de 2023 os preços afundaram 27%, pressionados pela evolução débil da economia chinesa e subida de juros dos bancos centrais no Ocidente. Nos três meses seguintes o Brent disparou 33%, impulsionado pelos cortes de produção extraordinários da Arábia Saudita e Rússia. Seguiu-se uma nova fase, com o petróleo a recuar mais de 20% desde o final de setembro.

Analisando a evolução mensal, o petróleo desvalorizou em todos os primeiros cinco meses de 2023, valorizou de forma consecutiva nos quatro meses seguintes e fechou os últimos três meses do ano sempre com sinal negativo.

Potencial de valorização limitado

No final de 2023, os analistas estão a estimar que a cotação do petróleo deverá estabilizar em torno dos níveis atuais e sem atingir os 100 dólares a que negociou pela última vez em agosto de 2022. As perspetivas de abrandamento da procura a nível global e reforço da oferta dos países produtores fora da OPEP+ são os fatores que justificam as perspetivas mais sombrias.

De acordo com a média das estimativas dos principais bancos de investimento, agrupadas pela Bloomberg, os analistas preveem que o petróleo vai fechar 2024 nos 81 dólares, o que aponta para um potencial de valorização limitado face às cotações atuais.

Mesmo os analistas historicamente mais otimistas para as matérias-primas estão a adotar uma abordagem mais cautelosa. Um dos exemplos mais paradigmáticos é o do Goldman Sachs, que recentemente reviu em baixa as suas projeções depois de, a meio do ano, já ter abandonado a perspetiva de que o petróleo iria negociar nos 100 dólares em 2024.

O banco de investimento cortou em 10 dólares a previsão da cotação do barril de Brent no próximo ano, estimando agora que vai oscilar entre 70 e 90 dólares. Projeta que em junho de 2024 estará nos 85 dólares. Já nos primeiros dias de 2024, mais bancos de investimento reduziram as suas previsões. O Morgan Stanley cortou 9% para 77 dólares por barril e o UBS também baixou a sua estimativa.

O JPMorgan, que fez uma estimativa certeira para a evolução dos preços em 2023, aponta para uma cotação média de 83 dólares no próximo ano. Entre os analistas mais pessimistas, o Citigroup estima que o Brent vai registar uma cotação média de 75 dólares em 2024. Já a Macquarie aponta aos 77 dólares, com os preços a oscilarem entre 79 (primeiro trimestre) e 74 dólares (quarto trimestre). O Bank of America é dos poucos a antecipar uma valorização significativa das cotações, estimando uma cotação média de 90 dólares em 2024.

Vemos algum potencial de valorização pois os preços parecem baixos tendo em conta o nível dos inventários. O posicionamento dos investidores está deprimido e o alívio das condições financeiras suportam a nossa perspetiva de que a procura vai crescer de forma sólida em 2024.

Mais produção nos EUA compensa cortes da OPEP+

O Goldman Sachs justifica a estimativa mais moderada para as cotações com a previsão de que os produtores nos Estados Unidos vão aumentar a oferta a um ritmo superior ao previsto (900 mil barris por dia). Por outro lado, considera improvável que Arábia Saudita deixe de condicionar o mercado, estimando que a OPEP+ mantenha os cortes de produção até ao segundo trimestre e só comece a reverter de forma gradual a partir de julho de 2024.

“Vemos algum potencial de valorização pois os preços parecem baixos tendo em conta o nível dos inventários”, refere o Goldman Sachs, acrescentando que “o posicionamento dos investidores está deprimido e o alívio das condições financeiras suportam a nossa perspetiva de que a procura vai crescer de forma sólida em 2024”.

A evolução do mercado norte-americano tem sido crucial para suster a alta das cotações motivada por fatores geopolíticos, como a guerra em Israel e os ataques dos rebeldes iemenitas huthis no Mar Vermelho. Os stocks de crude têm evoluído em alta e a produção no país atingiu um recorde de 13,3 milhões de barris por dia no quarto trimestre.

Os Estados Unidos estão assim a reforçar a posição de maior produtor de petróleo do mundo, alargando a distância para a Arábia Saudita, que está com o nível de produção mais baixo dos últimos anos (abaixo dos 10 milhões de barris por dia) devido aos cortes que visam impulsionar os preços. Com o contributo de outros países fora da OPEP+, como o Brasil e Venezuela, a produção adicional parece ser suficiente para compensar os cortes da OPEP e fazer face ao aumento ténue da procura.

O Citigroup vê o mercado petrolífero excedentário no próximo ano, com a procura a ser afetada pelo abrandamento económico e efeitos da transição energética, aliada à produção forte nos Estados Unidos, a obrigar a OPEP+ a manter os cortes na oferta para defender os preços da matéria-prima nos níveis atuais.

O PMorgan estima que os países fora da OPEP vão aumentar a produção em 1,7 milhões de barris por dia em 2024, o que será mais do que suficiente para responder ao aumento da procura (estima 1,6 milhões de barris). “Para manter o mercado petrolífero equilibrado, a OPEP+ tem de manter os constrangimentos na produção”, diz a analista Natasha Kaneva.

A Macquarie assinala que a evolução da produção nos países fora da OPEP “vai continuar a desafiar a capacidade” de o cartel suportar os preços do petróleo em alta, pelo que espera uma “normalização das cotações no próximo ano”. Apesar de prever que a procura permaneça resiliente em 2024, alerta que a preocupações com a evolução da economia global pode ameaçar este cenário e adicionar volatilidade à evolução dos preços.

O abrandamento económico terá efeitos negativos na procura e tenderá a pressionar os preços do petróleo, mas também pode trazer impactos positivos nos preços. Uma recessão na economia norte-americana ditará uma descida de juros mais rápida da Fed, o que vai debilitará o dólar. A desvalorização da divisa vai aumentar a atratividade do petróleo e outras matérias-primas, com destaque para o ouro.