A tensão entre a Rússia e o Ocidente continua a ser um tema central nas discussões diplomáticas globais. Em um momento decisivo antes de uma conversa entre o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, a alta representante da Estónia, Kaja Kallas, alertou para o risco de confiar nas intenções da Rússia.
Após uma reunião ministerial em Bruxelas, Kallas criticou as condições impostas por Putin para aceitar a proposta de cessar-fogo de 30 dias na Ucrânia, proposta esta que Kiev já aceitou. Segundo a líder estoniana, a Rússia não busca paz, mas sim impor exigências que, segundo ela, têm caráter de “objetivos finais”. Para Kallas, qualquer esperança de um acordo de paz com a Rússia deve ser tratada com cautela. Ela foi clara ao afirmar: “Não se pode confiar na Rússia para atingir esse objetivo.”
Putin, na semana passada, fez uma série de perguntas durante uma conferência de imprensa, deixando claro que, para aceitar o cessar-fogo proposto pelos Estados Unidos, várias condições precisavam ser esclarecidas. Ele questionou, por exemplo, se a Ucrânia continuaria a receber armamentos e se a mobilização de novas tropas continuaria durante os 30 dias de trégua. Além disso, o líder russo fez referência ao que chamou de “causas profundas” da guerra, uma retórica que frequentemente utiliza para justificar a desmilitarização da Ucrânia e a sua neutralidade, condições que Kiev já deixou claro que não aceitará.
De acordo com Kallas, a Rússia está mais interessada em apresentar novas exigências do que em realmente negociar a paz. “O que vemos neste momento é que a Rússia não quer a paz”, afirmou. “Houve um entendimento à volta da mesa de que não se pode confiar na Rússia”, completou, reforçando a ideia de que qualquer ação de Moscovo deve ser vista com extremo ceticismo.
Outros líderes europeus também expressaram preocupações semelhantes. Kęstutis Budrys, ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, frisou que as concessões não devem vir da Ucrânia, mas sim da parte do agressor, ou seja, da Rússia. “Não há lugar para a paz no plano imperialista de Putin”, destacou Budrys, sublinhando a natureza agressiva das exigências de Moscovo.
A finlandesa Elina Valtonen também se posicionou no mesmo sentido, alertando que qualquer tentativa de paz que seja usada por Putin para enfraquecer ainda mais a Ucrânia deve ser vista com grande cautela. Para Valtonen, as intenções de Putin não são genuínas, e qualquer negociação que não tenha a Ucrânia como protagonista apenas servirá para prolongar o conflito.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy, também se mostrou cético em relação às condições impostas por Putin, considerando-as como “muito previsíveis e manipuladoras”. Zelenskyy apontou para o recente reforço militar russo na fronteira com a região de Summy como uma prova de que Putin está mais interessado em continuar a guerra do que em encontrar uma solução diplomática. “Isto indica uma intenção de atacar”, afirmou o líder ucraniano, deixando claro que a Rússia parece ignorar qualquer tentativa de resolver o conflito por vias diplomáticas.
Apesar do ceticismo generalizado, Trump segue otimista quanto à possibilidade de um diálogo construtivo com Putin. O ex-presidente dos EUA anunciou sua intenção de manter uma nova chamada telefônica com o líder russo, na qual, segundo Trump, discutirão temas como “terras” e “centrais elétricas”. Trump também mencionou que já haviam sido feitos avanços na “divisão de certos ativos”. Sua postura otimista, no entanto, contrasta com a visão mais cautelosa de líderes europeus e ucranianos, que temem que a Rússia esteja usando essas conversas como uma forma de manipular a situação e enfraquecer a Ucrânia ainda mais.
Em Bruxelas, os aliados ocidentais estão extremamente atentos aos desdobramentos desta conversa entre Trump e Putin. Quando ambos se encontraram pela última vez, em fevereiro de 2025, houve uma surpresa ao acordarem negociações para acabar com a guerra, o que gerou desconforto entre os aliados europeus. Agora, a União Europeia se prepara para avançar com uma nova coligação de países dispostos a apoiar a Ucrânia. Kaja Kallas, por exemplo, propôs uma mobilização de até 40 bilhões de euros em ajuda militar à Ucrânia, com a participação de países da UE e aliados como o Reino Unido e a Noruega.
A iniciativa de Kallas visa contornar a oposição de países como a Hungria e possibilitar um aumento significativo no apoio militar à Ucrânia. Embora a proposta tenha recebido amplo apoio político, ainda há trabalho técnico a ser feito para concretizá-la. “Todos compreenderam, à volta da mesa, que devemos mostrar a nossa determinação neste momento e apoiar a Ucrânia para que se possa defender”, afirmou Kallas.
Essa nova coligação deverá ser debatida pelos líderes da União Europeia durante a cimeira programada para quinta-feira, onde a situação na Ucrânia e as respostas internacionais à agressão russa estarão em pauta.
Enquanto a Europa se prepara para discutir novos planos de apoio à Ucrânia, a postura da Rússia e a postura otimista de Trump quanto a negociações de paz continuam a ser questões delicadas. As tensões entre os aliados europeus e o Kremlin estão mais evidentes do que nunca, e as próximas semanas poderão revelar se a diplomacia tem realmente alguma chance de pôr fim a este conflito devastador, ou se ele continuará a se arrastar com mais exigências e manipulações por parte de Moscovo.