Luanda – Uma nova tendência tem ganho força no panorama político angolano: dirigentes de partidos, ministros e governadores estão a utilizar as suas páginas pessoais no Facebook para divulgar mensagens de carácter institucional, relegando para segundo plano os canais oficiais das instituições que representam. Enquanto alguns justificam a prática como uma forma de “aproximação ao povo”, críticos apontam traços de populismo e personalização excessiva do poder.
A tendência terá sido iniciada por Adalberto Costa Júnior, líder da UNITA, cuja presença digital passou a concentrar grande parte da comunicação do partido. Na prática, a página oficial da força política tem sido eclipsada pela projeção pessoal do presidente.
Seguindo o exemplo, o ministro do Interior, Manuel Homem, adotou uma estratégia semelhante, introduzindo transmissões em direto às quartas-feiras. Segundo observadores, estas sessões funcionam como uma alternativa a entrevistas tradicionais, evitando o escrutínio de jornalistas e transformando-se numa espécie de programa informativo feito pelo próprio governante, sem espaço para contraditório.
A tendência chegou também à governação provincial. Gildo Matias José, governador da Lunda-Sul, tem privilegiado o uso do Facebook como principal meio de comunicação pública, relegando para segundo plano estruturas formais de assessoria e comunicação institucional. Há quem antecipe que o dirigente possa avançar até para formatos como podcasts, conduzindo entrevistas consigo próprio num ambiente totalmente controlado.
O fenómeno tem sido alvo de críticas, sobretudo por sugerir um recuo na transparência e na mediação jornalística, substituída por canais pessoais e unilaterais. Para alguns analistas, esta prática reforça a personalização da política e enfraquece a função comunicacional das instituições públicas, num contexto em que a comunicação oficial depende cada vez mais do estilo e preferências individuais dos titulares dos cargos.

