Luanda — Um texto de opinião divulgado esta semana por Ana Jenário reacendeu o debate sobre tensões internas no MPLA, ao abordar o caso judicial envolvendo o general reformado e pré-candidato à liderança do partido, Higino Carneiro. A autora sugere que as recentes queixas-crime contra o antigo governante não surgiram por acaso, mas dentro de um contexto político marcado por disputas de poder.
Segundo o artigo, alegações antigas relacionadas ao período em que Higino Carneiro foi governador do Cuando Cubango e de Luanda ressurgiram agora em forma de duas queixas-crime apresentadas pela Procuradoria-Geral da República, por suspeitas de peculato e burla qualificada. Entre as acusações, estaria o alegado uso de fundos públicos para fins privados e a recepção de dezenas de viaturas de uma empresa, posteriormente distribuídas sem a devida cobrança.
O texto aponta que a abertura destes processos coincide com a aproximação do congresso do MPLA, onde a sucessão na liderança está em pauta, levantando dúvidas sobre a oportunidade e a imparcialidade das ações judiciais. A autora sugere ainda que a iniciativa pode ter como objetivo afastar o pré-candidato, reforçando a ideia de que a liberdade interna no partido estaria limitada
Ana Jenário recorre a metáforas e críticas diretas para insinuar que a figura conhecida como “Papy” — referência a um dirigente de grande influência — continua a desempenhar um papel determinante nos bastidores do poder, mesmo após deixar funções executivas. Segundo a análise, essa influência se manifestaria tanto no controlo de decisões políticas como na forma como diferentes actores são disciplinados dentro da organização.
O artigo conclui destacando que militantes e dirigentes enfrentam um dilema: alinhar-se com a liderança dominante ou arriscar consequências políticas. Para a autora, a situação expõe fragilidades na democracia interna do partido e alimenta a percepção de que a influência centralizada continua a moldar o rumo político do país.

