A União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) concluiu o XIV Congresso reafirmando a necessidade de “união e coesão” interna, após dias marcados por sinais de divisão entre duas candidaturas à liderança. Embora o partido tenha reforçado o discurso de reconciliação, permanece a incógnita sobre como serão sanadas as divergências recentes.
Adalberto Costa Júnior foi reeleito presidente do partido, deixando para trás Rafael Massanga Savimbi, filho do fundador da UNITA. Apesar da disputa, dirigentes asseguram que não haverá retaliações. Menezes Domingos, membro sénior do partido, afirmou que a UNITA “não é propriedade exclusiva da família Savimbi” e defendeu que o processo eleitoral interno deve ser visto como parte natural da vida democrática.
O politólogo Agostinho Sikatu considera que a liderança terá agora o desafio crucial de transformar o discurso em prática. “As eleições representam apenas um passo. A verdadeira coesão dependerá da capacidade de inclusão e da forma como o partido vai integrar aqueles que têm posições divergentes”, observou. Para Sikatu, divergências não devem ser encaradas como fraquezas, mas como oportunidades para reforçar a cultura democrática.
Apesar de abordagens internas tensas, Adalberto Costa Júnior garantiu que a UNITA mantém “vitalidade extraordinária”. Contudo, antes do congresso, Menezes Domingos havia admitido “ruturas” entre quadros do partido, muitos dos quais deixaram de se rever na atual liderança.
A UNITA vê na pacificação interna uma etapa essencial para reforçar a sua posição rumo às eleições gerais de 2027, onde pretende desafiar o MPLA, que continua a dominar a máquina governativa. Segundo Sikatu, a oposição entra nesta corrida em desvantagem estrutural, o que reforça a necessidade de estratégias mais abrangentes.
Entre essas estratégias está a possibilidade de uma coligação eleitoral mais ampla. A UNITA já testou modelos semelhantes no passado, com resultados limitados, mas analistas defendem que alianças — ainda que arriscadas devido às diferenças ideológicas entre partidos — podem ampliar o alcance político da oposição.
A eventual inclusão de membros da sociedade civil em listas de candidatos também volta ao debate. A legislação impede organizações civis de concorrer diretamente, mas permite que cidadãos independentes sejam integrados por convite. Sikatu lembra, contudo, que experiências anteriores revelaram conflitos internos e dificuldades de disciplina partidária, o que exigirá maior maturidade estratégica.
O politólogo reforça que a UNITA precisa demonstrar na prática que está reconciliada: “Mais do que discursos, é necessário ver antigos adversários internos a trabalhar juntos e a falar a mesma língua”. Só assim o partido poderá consolidar uma imagem de unidade perante o eleitorado.
Apesar das incertezas, dirigentes como Menezes Domingos mantêm confiança: “A UNITA tem vocação para o poder. Não acredito que os angolanos escolham outra opção”.
O congresso encerrou com críticas de Adalberto Costa Júnior ao MPLA, acusando o partido no poder de desrespeitar a Constituição, sinal de que, além do desafio interno, a UNITA já prepara o tom para a disputa eleitoral que se avizinha.

