Na terra onde o pão falta e o ladrão abençoa o altar, muitos perguntam: “Mas e os cristãos? Onde estão?” Estão sentados, talvez, em bancos almofadados de templos dourados, orando para que o maná caia, enquanto o povo come poeira e esperança azeda.
Por: Poeta UKwanana Cristão, Activista e Defensor dos Direitos Humanos
Mas ora, meu irmão, minha irmã, como podem os filhos da luz assistir ao desfile das trevas e ainda cochichar: “Deus está no controle”? Sim, Ele está. Mas desde quando controle divino é desculpa para covardia humana?
Jesus não morreu por covardes conformados. Ele virou mesas no templo (Mateus 21:12-13). Sim, o Príncipe da Paz teve seu momento de protesto. Não pediu licença ao sacerdote, nem mandou e-mail à prefeitura. Chegou, viu o roubo institucionalizado, e quebrou o protocolo. E tu, irmão, não queres nem levantar um cartaz?
Amós, o profeta da justiça, gritava:
“Corra o juízo como as águas, e a justiça como um ribeiro perene” (Amós 5:24).
Mas no país do petróleo que vaza e não alimenta, nem água há para esse ribeiro. Talvez o ribeiro seque porque os justos decidiram calar.
Moisés enfrentou Faraó. Não disse: “Deus me chamou para orar em silêncio no monte Sinai”. Não! Foi à corte do opressor, cara a cara, exigindo: “Deixa o meu povo ir” (Êxodo 5:1). Hoje, os faraós vestem fato e gravata, blindam-se com leis e tanques. E os crentes? Dizem “não é da nossa conta”. Pois saibam: o silêncio do justo é o louvor do tirano.
Até João Batista, que comia gafanhotos e vestia pano de saco, apontou o dedo para o palácio e disse a Herodes: “Tu estás em pecado!” (Lucas 3:19). E morreu por isso. Hoje, não querem nem ser malvistos pelo administrador municipal.
A Bíblia não é manual de passividade. É manifesto de resistência espiritual com implicações políticas. Se os profetas vivessem hoje, seriam chamados de “arruaceiros”, “desordeiros”, “perturbadores da paz”. Mas o céu os chamaria de bem-aventurados (Mateus 5:10).
Então, cristão, se vês o povo a definhar sob o chicote do custo de vida, do abuso policial, da corrupção institucionalizada — e não ages, saiba: tu não és neutro, és cúmplice.
Levanta-te! Não sejas um crente de vidro que quebra quando a verdade choca. Que a tua fé tenha mais ação que amém. Que teus joelhos toquem o chão, mas teus pés toquem as ruas. Pois Deus não se agrada de mãos erguidas em louvor quando estão sujas da omissão (Isaías 1:15-17).
Porque, afinal, quando os justos se calam, até as pedras gritam. E talvez hoje, sejam as ruas do Huambo que estejam gritando… com lágrimas de gasóleo.
“Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.”(Mateus 5:6) e tu, cristão, vais continuar a jejuar de coragem?