O Corredor do Lobito, um dos mais ambiciosos projetos ferroviários de Angola, tinha tudo para se tornar um símbolo de integração regional e de progresso económico. No entanto, o que deveria ser a espinha dorsal da ligação entre o Atlântico e o interior do país tornou-se, tristemente, um exemplo de deterioração e abandono.
As imagens recentes divulgadas por cidadãos ao longo da ferrovia, especialmente nas províncias de Benguela e Huambo, revelam um cenário alarmante: vagões abandonados, trilhos corroídos, carris partidos e ausência de segurança. O que um dia foi anunciado como um motor de desenvolvimento hoje serve de palco para o descaso, vandalismo e pilhagem.
Apesar dos investimentos robustos canalizados por parceiros internacionais como os Estados Unidos e a União Europeia, a ferrovia parece estar longe de corresponder às expectativas. Registos amadores partilhados nas redes sociais mostram trilhos tomados pela ferrugem e estruturas metálicas a serem desmontadas para venda como sucata por comunidades locais, em busca de subsistência.
A situação lança uma sombra sobre a transparência na gestão do projeto. Fontes ligadas à execução da obra afirmam que o governo angolano teria optado por materiais de qualidade inferior para reduzir custos – e, potencialmente, favorecer práticas corruptas. Segundo especialistas, a composição dos trilhos ignora normas técnicas básicas, comprometendo sua durabilidade e segurança.
“É como condenar a ferrovia antes mesmo dela ser plenamente utilizada”, afirmou um engenheiro ferroviário sob condição de anonimato, ao comentar a ausência de ligas metálicas anticorrosivas e a presença de elementos que aceleram o desgaste.
A rápida degradação levanta suspeitas sobre a possibilidade de um plano arquitetado para, futuramente, justificar mais verbas sob o pretexto de “obras de emergência”. Neste ciclo vicioso, cada deterioração se torna oportunidade de novos contratos e, com eles, potenciais desvios de fundos públicos.
Desde sua concepção, o Corredor do Lobito já enfrentava críticas quanto à sua gestão. Agora, o avanço do abandono torna inevitável o questionamento sobre a viabilidade do projeto, colocando em xeque inclusive o prestígio do Presidente João Lourenço, que apostou politicamente na obra como símbolo de modernização.
Analistas e profissionais da área defendem a realização urgente de uma auditoria internacional independente, com o envolvimento de engenheiros ferroviários e especialistas em finanças públicas. Apenas com investigação transparente será possível identificar responsabilidades e interromper o ciclo de ineficiência e desvio.
O Corredor do Lobito, concebido como uma artéria vital para o desenvolvimento económico angolano, hoje se assemelha a um museu de promessas não cumpridas — um esqueleto de aço enferrujado exposto ao sol, que reflete os males da má gestão e da falta de fiscalização. Enquanto não houver responsabilização e correção de rumos, o futuro da infraestrutura nacional continuará a ruir, peça por peça.