Nesta semana, o conflito civil que assola o Sudão desde abril de 2023 entra em seu terceiro ano. Sem sinais de trégua, a guerra já deixou dezenas de milhares de mortos e provocou o deslocamento de 13 milhões de pessoas, mergulhando o país em uma das maiores tragédias humanitárias da atualidade, segundo as Nações Unidas.
Em meio a uma luta feroz pelo poder entre o Exército e as Forças de Apoio Rápido (RSF), milhões de sudaneses enfrentam diariamente o horror da violência e da insegurança. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, lamentou recentemente o “desprezo absoluto pela vida humana” demonstrado pelas duas facções envolvidas, num conflito que começou entre antigos aliados.
Esses mesmos grupos haviam unido forças em 2019 para remover o então presidente Omar al-Bashir, após três décadas no poder. Bashir, que já era alvo de acusações do Tribunal Penal Internacional por crimes de guerra, acabou preso após semanas de protestos populares contra seu governo autoritário e o agravamento da crise econômica.
No entanto, o que parecia ser o início de um novo capítulo para o Sudão rapidamente se transformou em um novo pesadelo. O general Abdel Fattah al-Burhan, líder das forças armadas, e o general Mohamed Hamdane Dagalo, comandante da RSF, romperam sua aliança e mergulharam o país em um violento confronto interno.
Desde então, cidades inteiras foram tomadas pelos combates. A capital Cartum foi palco de intensas batalhas e só foi retomada pelo exército em março deste ano. No entanto, a região de Darfur, no oeste, continua como um dos principais focos do conflito.
A situação é especialmente crítica no campo de deslocados de Zamzam, perto de El-Fasher. No último domingo, as RSF anunciaram a tomada do local, em um ataque que teria deixado cerca de 400 mortos, segundo dados da ONU.
As estatísticas são devastadoras: mais de 150 mil mortos, milhões de refugiados espalhados por países vizinhos como o Chade e o Egito, e cerca de 25 milhões de sudaneses em situação de insegurança alimentar. Entre eles, 8 milhões estão à beira da fome.
Essa realidade contrasta de forma cruel com o potencial do Sudão. O país possui vastas áreas agricultáveis, mão de obra jovem, e grandes reservas de recursos naturais como ouro, cobre, gás natural, urânio, alumínio e outros minerais que despertam o interesse da comunidade internacional.
Apesar dos inúmeros apelos por um cessar-fogo, a guerra segue sendo alimentada por apoio externo e fornecimento de armas — um dos pontos mais criticados por Guterres em seu último pronunciamento. Embora sem apontar nomes, o Sudão recentemente acusou os Emirados Árabes Unidos de apoiar os paramilitares, fornecendo armamentos. Tanto o governo do país do Golfo quanto a RSF negaram as acusações.
Com a entrada no terceiro ano de guerra, o cenário continua sombrio. Enquanto os líderes militares prolongam o conflito por interesses próprios, a população sudanesa sofre com a violência, a fome e a incerteza. O mundo observa, mas a resposta internacional ainda parece tímida diante da gravidade da crise.