Um mês após a passagem do ciclone Jude, a província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, ainda enfrenta sérios desafios. A destruição deixada pelo fenómeno natural continua a impactar o dia a dia da população, agravando a escassez de bens essenciais e provocando uma disparada nos preços.
Desde que o ciclone danificou infraestruturas críticas, como pontes na Estrada Nacional Número 1 — rota vital entre Cabo Delgado e Nampula — o fornecimento de produtos e serviços foi severamente interrompido. O resultado? Supermercados desabastecidos, mercados inflacionados e postos de combustível com filas intermináveis.
Em Pemba, capital provincial, o cenário é caótico. A reposição de combustíveis tem sido um desafio constante, refletindo-se no funcionamento precário dos transportes públicos e privados.
Com dificuldades no acesso ao terminal de Nacala-Porto, anteriormente principal ponto de entrada de combustível para a região, muitos transportadores rodoviários tiveram que paralisar suas atividades. Segundo Cássimo Salimo, presidente da Associação Provincial de Transportadores Rodoviários de Cabo Delgado, mais da metade dos operadores interrompeu suas rotas.
“Estamos a enfrentar uma escassez grave de combustível, o que está a gerar uma especulação enorme nos preços, tanto do transporte quanto dos produtos alimentares”, alerta Salimo.
Além disso, ele questiona por que o porto de Pemba ainda não está a ser usado como principal alternativa logística, considerando os prejuízos enfrentados diariamente pelos profissionais do setor.
Diante da crise, uma solução emergencial começou a ser implementada. Segundo Mamudo Irache, presidente do Conselho Empresarial de Cabo Delgado, já está em operação uma nova rota marítima entre Nacala e o porto de Pemba. Um cargueiro agora realiza esse percurso para garantir o reabastecimento da região.
Apesar da novidade, o abastecimento continua aquém do necessário. As longas filas nos postos persistem, e os motoristas enfrentam constantes atrasos na distribuição interna.
Irache defende que é hora de pensar além do combustível: “Por que não transportar também produtos alimentares por via marítima até Pemba?”, questiona. Ele afirma que o setor privado já está em diálogo com o Governo para explorar essa alternativa, incluindo a utilização do porto de Mocímboa da Praia.
Cabo Delgado enfrenta uma crise multifacetada, marcada por uma logística fragilizada, preços em alta e escassez de recursos básicos. Embora algumas soluções comecem a aparecer, a normalização das condições ainda parece distante. O momento exige respostas rápidas, coordenação entre os setores público e privado e, acima de tudo, resiliência por parte da população.