Em uma investigação exclusiva da SIC, fomos apresentados a um caso alarmante de perseguição que resultou na maior condenação de sempre em Portugal por esse crime. Durante dois anos, uma universitária do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP) da Universidade de Lisboa aterrorizou várias estudantes com uma série de ações cruéis, incluindo envio de e-mails anônimos, fotomontagens com teor sexual e constantes ameaças.
Entre 2019 e 2021, a acusada se focou principalmente em uma estudante mais jovem do ISCSP, começando com a criação de uma conta falsa no Tinder. Usando uma fotografia manipulada, ela estabeleceu uma conexão direta com o Instagram da vítima. Em questão de dias, tentativas de acessar as redes sociais da estudante começaram a ocorrer. “Naturalmente, a aluna já estava preocupada. Já se sentia incomodada com a situação”, afirmou Ricardo Ramos Pinto, presidente do ISCSP.
O comportamento da agressora não parou por aí. Foram feitas centenas de tentativas de login nas redes sociais da vítima e, pior ainda, pedidos para recuperação de senhas. Para aumentar o clima de terror, encomendas indesejadas começaram a chegar na residência da vítima, e consultas médicas com os contatos dela foram marcadas sem consentimento. “Quando recebemos um e-mail com essas informações, pensamos… O que está acontecendo?”, revelou João Machado, ex-presidente da Associação de Estudantes do ISCSP.
A perseguição foi marcada também por ameaças verbais. Mensagens agressivas e cruéis eram enviadas com frequência para a vítima. Algumas das mensagens mais chocantes incluem:
- “Cabra de m***. Atrasada mental.”
- “Não morras sufocada. Morre com Covid-19.”
- “Suicida-te. És mais feia que o meu vómito.”
- “Mata-te. Se um dia te apanho, ficas toda negra.”
Essas mensagens aterradoras se tornaram uma rotina na vida da vítima, criando um ambiente de constante medo e ansiedade.
Em um e-mail enviado pela acusada, ela confessou os crimes, incluindo a criação de falsas pistas que levaram a polícia a realizar buscas nas casas de outras três estudantes. Contudo, durante o julgamento, a mulher voltou atrás em sua confissão e manteve sua inocência, negando que tivesse perseguido as vítimas.
O Ministério Público apresentou uma das confissões no processo, datada de janeiro de 2020, onde a acusada dizia: “Sim, fiz tudo, e sim, incriminei as outras três idiotas. E uma coisa é certa: tive a diversão da minha vida… Agora já não existe piada nenhuma em continuar este jogo.”
Em um desfecho surpreendente, a responsável pela perseguição foi condenada a 7 anos e 9 meses de prisão efetiva por 18 crimes de perseguição, falsidade informática e denúncia caluniosa. Além disso, ela foi condenada a pagar mais de 50 mil euros em indemnizações às vítimas. Essa é a pena mais pesada já aplicada em Portugal pelo crime de perseguição.
Esse caso chocante serve como um lembrete da gravidade do crime de perseguição e da importância de se proteger as vítimas de comportamentos tão destrutivos e perturbadores. O julgamento traz uma reflexão sobre os limites da privacidade e o impacto psicológico que tais ações podem ter na vida das pessoas.