Luanda – José Julino Kalupeteka, líder da seita religiosa “A Luz do Mundo”, permanece preso em Angola enquanto outros condenados no mesmo caso foram libertados. Sua permanência na prisão, segundo especialistas, pode estar relacionada ao receio das autoridades quanto à sua capacidade de mobilização social e impacto político.
O caso remonta a abril de 2015, quando uma operação policial no Monte Sumi, província do Huambo, resultou em confrontos violentos. Segundo o governo, várias pessoas morreram, incluindo nove agentes da polícia. Entretanto, familiares e apoiadores de Kalupeteka afirmam que o número de vítimas foi muito maior, com relatos de até 700 mortos.
Em 2016, Kalupeteka foi condenado a 30 anos de prisão por homicídio qualificado e resistência às autoridades, pena posteriormente reduzida para 23 anos pelo Tribunal Supremo. Outros seguidores da seita, condenados a penas de 16 a 27 anos, já foram libertados, deixando Kalupeteka como o único ainda preso.
A libertação dos outros condenados foi possível graças à aplicação da lei de amnistia de 2015, que prevê a redução de um quarto das penas. De acordo com o jurista Lindo Bernardo Tito, o mesmo benefício poderia ser estendido a Kalupeteka. No entanto, ele acredita que questões políticas estão pesando na decisão de mantê-lo preso.
“As autoridades talvez temam soltar Kalupeteka em um contexto pré-eleitoral, como o que se aproxima em 2024 e 2025. Ele é um líder com forte capacidade de mobilização, o que pode representar uma ameaça política”, afirmou Tito.
Outro jurista, Manuel Cornélio, reforça que o caso Kalupeteka transcende o âmbito jurídico, sendo essencialmente político. Ele argumenta que desde a investigação até o julgamento e condenação, o processo foi marcado por questões políticas que influenciaram a severidade da sentença.
“A responsabilização de Kalupeteka não deveria ocorrer da forma como está sendo conduzida, caso o enfoque fosse estritamente jurídico”, declarou Cornélio.
José Julino Kalupeteka liderava a igreja “A Luz do Mundo”, que chegou a reunir milhares de seguidores em Angola. Após os acontecimentos de 2015, a atuação da igreja foi drasticamente reduzida, e seu crescimento foi interrompido pelas autoridades.
Seus apoiadores continuam questionando por que ele não foi incluído nas medidas de libertação aplicadas aos outros condenados. Seu filho, Catupe Kalupeteka, expressou preocupação com a situação, argumentando que a justiça não tem sido imparcial.
O caso Kalupeteka evidencia as complexidades que envolvem o sistema judicial angolano, particularmente quando religião, política e justiça se cruzam. Enquanto isso, a detenção prolongada do líder religioso permanece um ponto de debate, levantando questões sobre o equilíbrio entre segurança nacional e direitos individuais.
O futuro de Kalupeteka e a influência de sua liderança continuam sendo um tema sensível para Angola, especialmente em um contexto político que se aproxima de novas eleições.