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Um repto ao inquérito do Afobarometro sobre o desempenho do PR João Lourenço

No dia 7 de Agosto, os nossos telefones, por via das redes sociais, foram inundados por uma capa de Jornal, cujo título fazia referência à pesquisa do Afrobaromentro, uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1999, no Ghana. O referido jornal fazia alusão a um estudo realizado e publicado em 2024, sobre o estado de opinião dos angolanos em relação às políticas governamentais, incluindo o desempenho do Presidente da República.

Ao folhear o jornal, fomos nos deparando com imprecisões, começando pelo subtítulo que dizia: avaliação entre 2019 a 2014 , ou seja, percebemos que estávamos perante uma trapalhada.

Na capa dizia que cerca de 80% da população angolana não aprovava o PR, no discorrer do texto, vimos o número reduzir para perto de 40%.

Constatada a trapalhada do jornal, fomos em busca da fonte e percebemos que o Afrobarometro, pelo menos no seu site, não publicou qualquer estudo realizado em 2024. Em Março de 2024 publicou um resumo do estudo realizado em 2022.

No referido estudo, o Presidente da República tinha um nível de aceitação de 33%, para os indivíduos de 18 a 35 anos e de 46% para os indivíduos com mais de 46 anos.

Mas como uma fake news não vem só, recebemos duas apresentações, via redes sociais, sobre os principais resultados dos supostos estudos realizados em 2024.

Numa das apresentações fazia-se referência de que o estudo foi realizado de 9 de Fevereiro a 8 de Março de 2022, no entanto os slides apresentavam dados de 2024.

Neste resumo, apesar da referência do período do estudo serem dados relativos a 2024, em alguns slides conseguiu-se perceber a manipulação barata do texto (tipos de letras diferentes e outras incongruências).

Já a outra apresentação, apresentava como período de recolha de dados o período de 27 de Março a 19 de Abril de 2024.

Esperamos que não se tenham esquecido: na referência, o site da Afrobarometro publicou um resumo do estudo de 2022, no dia 25 de Março de 2024.

Como cidadão atento às desinformações , principalmente aquelas que são amplamente publicadas nas redes sociais, continuámos a analisar os documentos e identificámos os gráficos que se apresentam na foto.

Gráficos muito semelhantes, ou seja, com as mesmas informações, mas reconhece-se facilmente a imitação e a manipulação na informação.

Em rodapé, as perguntas não são as mesmas, porém, o resultado é o mesmo, numa clara evidência de que a noticia publicada sobre o inquérito tenha sido manipulada para atingir fins politicos.

No referido estudo, uma olhada à metodologia, dois aspectos ressaltaram-nos à vista:

1º O tamanho da amostra, em ambos, é de 1200 inquiridos e relacionámos à pesquisa de 2022 que tinha a mesma amostra.

2º o período de recolha é, praticamente, o mesmo.

Ficámos com a sensação, em caso de ter havido de facto algum inquérito, estar-se a inquerir sempre as mesmas pessoas, ou seja, neste caso nos parece tratar-se de uma amostra por conveniência, que na vertente, não é probabilista nem tão pouco aleatória.

Finalmente, somos de opinião que houve uma má interpretação na publicação do Afrobarometro do dia 25 de Março de 2024, pelo que, o jornal publicou como sendo uma nova informação e pela pouca literacia estilística, referiram-se à dados de forma errónea.

Por outro lado, houve bastante manipulação dos documentos postos a disposição do público.

Queremos lembrar aos leitores que não foi realizado qualquer estudo em 2024, trata-se de má interpretação da informação de 2022, que se quer fazer crer, ser de 2024.

O Governo Angola já está em tempo de reavaliar esses estudos que são feitos e apresentados publicamente. O país deveria ter uma entidade que emitisse pareceres a esses tipos de estudos ou no mínimo questionar no sentido construtivo, a metodologia e as perguntas.

Samuel dos Santos Vahekeny – Especialista em Estatística