Angola, quanto tempo mais a sua voz vai clamar no deserto?

Artigo de opinião de Adriano Kayunduma Jornalista

Enquanto ideia de um apelo apaixonado de cidadãos que não é ouvido ou que é ignorado, como se os mesmo estivessem clamando por justiça, bem-estar social, clamor às condições sociais precárias e também chamada de atenção que paira em um lugar vazio e isolado no escopo político. A voz de Angola, representada pelos cidadãos, clama no deserto entre a imensidão das necessidades sociais como o desemprego entre os jovens, inflação desmedida, fome e sonhos ameaçados de um futuro melhor para todos, e a incerteza no futuro colectivo do país.

No contexto histórico angolano, refere-se a uma obra coletiva e anônima publicada em 1901, composta por onze artigos que protestavam contra a opressão colonial portuguesa e reivindicavam direitos e reconhecimento para os “filhos do país”, ou seja, os naturais de Angola.

“Voz d’Angola clamando no deserto”, foi uma manifestação dos intelectuais angolanos da época, que utilizaram a imprensa escrita para expressar suas críticas e lutar contra o colonialismo. É considerada uma expressão máxima da geração de filhos do país que viviam em Luanda e no interior próximo, marcando um momento importante na história da resistência e do nacionalismo em Angola.

Passados mais de 100 anos desde 1901, será que a voz de Angola já parou de clamar pelo deserto?

Ainda que se deu em contexto diferente do actual, a questão de partida chama atenção essencialmente aos intelectuais e suas funções na sociedade, bem assim suas reflexões sobre as lutas constantes sobre o estado social e político do país.

Cordeiro da Mata, que foi um intelectual angolano notável e um dos principais contribuintes para a literatura e o pensamento crítico em Angola durante o período colonial, sua influência estendeu-se além da literatura, contribuindo para o debate político e social e inspirando futuras gerações de escritores e ativistas angolanos, foi uma das grandes vozes que contribuiu com o seu clamor no deserto diante o colonialismo. Estaria o mesmo contente com a Angola de hoje ou continuaria emprestando o seu saber para Angola continuar clamando pelo deserto?

Nos dias de hoje, o académico e político Paulo de Carvalho, em sua reflexão questionou: “Angola, quanto tempo falta para o amanhã?” seria esta uma voz moderna que busca clamar por Angola? É, provavelmente, uma crítica da Angola moderna que leva a reflexão social e política à tona, onde os problemas sociais ecoam da intelectualidade para ser emprestadas a solução do clamor de Angola no deserto.

Reginaldo Silva, jornalista, em uma reflexão despertou uma alegoria a que o mesmo chama de “Saudades do Futuro”, onde, entre outros, Saudades do futuro seria a resposta do fim do clamor de Angola pelo deserto, representando o ideal de todos que sonharam por uma Angola melhor. Dito em outras palavras, Saudades do Futuro representa o momento em que Angola crescia e mostrava-se próspera a todos ao nível económico, social e político.

A voz de Angola clama pelo deserto ao nível social e económico através do desemprego, onde a taxa de desemprego continua a ser um problema significativo, especialmente entre os jovens que buscam clamar firmemente nesta Angola que se encontra no deserto.

Outro clamor passa pela Pobreza e Fome, em que, apesar dos esforços para reduzir a pobreza, muitos angolanos ainda enfrentam situações graves de pobreza e fome. Hoje por hoje os cidadãos clamam à fome no deserto da pobreza onde a falta de pão castiga durante o dia e a frieza da pobreza tortura durante a noite.

Quanto a Saúde e Educação, o acesso limitado aos serviços básicos de saúde e educação é uma preocupação que Angola leva o seu clamor no deserto da incerteza.

O Endividamento, em que o governo busca pedir empréstimo de 12,1 mil milhões de dólares para financiar o Orçamento Geral do Estado para o ano económico corrente manifesta o clamor de uma Angola cansada do deserto.

Outros Problemas que Angola clama no deserto insiste em ser a Inflação que tem sido impulsionada principalmente pelos preços dos produtos alimentares, atingindo 24% em fevereiro de 2024, o Crescimento Económico que foi revisto em baixa com a produção de petróleo ficando aquém das expectativas e a questão da Desigualdade Social que continuam a ser um problema, exigindo esforços conjuntos para atenuar a situação das populações mais carenciadas.

Angola, quanto tempo mais a sua voz vai clamar no deserto? 

Não implica uma reflexão no vazio, mas um desafio de olhar para Angola e cada cidadão, intelectual ou não, lutar para que Angola deixe de clamar pelo deserto e chegue em terra firma. Para que Angola saia do deserto para deixar de clamar para onde ninguém virá socorrer, mas que olhe para si mesma como um país capaz e destemido para ultrapassar os desertos.

Enquanto estiver no deserto, seria bom que Angola administrasse o deserto (a areia) em que se encontra e criar um futuro melhor para todos, no entanto, por mais que tenhamos exemplo de Dubai, é mais seguro que Angola saia do deserto para construir seu futuro em meio aos riachos, florestas e relevos constantes, bem como aproveitar o melhor que o país oferece para deixar de clamar pelo deserto.

O tempo de parar de clamar no deserto é agora. Angola, o amanhã chegou na saudade de viver o futuro ameaçado pelas incertezas sociais, políticas e económicas.

Angola, quanto tempo mais a sua voz vai clamar no deserto?