Os ministros dos Negócios Estrangeiros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) recomendaram, esta quinta-feira, a suspensão temporária da Guiné-Bissau da organização, na sequência do golpe de Estado de 26 de novembro de 2025. A decisão aguarda agora apreciação dos Chefes de Estado e de Governo.
A posição foi anunciada num comunicado divulgado após a 17.ª reunião extraordinária do Conselho de Ministros, realizada por videoconferência, onde os responsáveis da diplomacia dos países lusófonos expressaram “profunda preocupação” com a crise política instalada em Bissau. Os ministros consideraram que a interrupção do processo eleitoral representa “uma violação grave dos princípios democráticos e da vontade do povo guineense”.
Além da recomendação de suspensão, o órgão propôs a transferência da presidência rotativa da CPLP para outro Estado-membro e decidiu criar uma Missão de Bons Ofícios de Alto Nível, a ser enviada ao país “com a máxima brevidade”, com o objetivo de ajudar a restaurar a ordem constitucional.
Os chefes da diplomacia exigiram ainda a libertação imediata de todos os detidos desde o início da crise e defenderam o retorno urgente à normalidade institucional, reafirmando o compromisso da CPLP com os valores democráticos e o respeito pela legalidade.
O golpe militar ocorreu dias após as eleições gerais — presidenciais e legislativas — e pouco antes da divulgação oficial dos resultados. Foi a primeira vez que o país realizou eleições sem o PAIGC, excluído pelo tribunal, o que alterou profundamente o cenário político. O partido apoiou o candidato independente Fernando Dias, que afirmou ter obtido vantagem sobre o Presidente cessante, Umaro Sissoco Embaló.
Com a intervenção do Alto Comando Militar, o processo eleitoral foi suspenso e Embaló afastado do cargo, provocando condenação imediata da comunidade internacional. Desde então, a Guiné-Bissau já foi suspensa de organizações regionais como a CEDEAO e a União Africana.
Entretanto, setores da oposição sustentam que o golpe poderá ter sido orquestrado pelo próprio Presidente deposto, alegadamente para evitar reconhecer uma derrota eleitoral, argumento que alimenta novas tensões e incertezas no país.

