Apesar da recente mudança na liderança provincial, os problemas sociais e estruturais no Cuanza Norte continuam a afligir a população. João Diogo Gaspar assumiu o cargo de governador em janeiro de 2024, mas a chegada de um novo rosto à administração não significou, até agora, mudanças visíveis para os habitantes da região.
Para o ano de 2025, a província recebeu um orçamento de quase 393 mil milhões de kwanzas, representando 1,13% do Orçamento Geral do Estado. No entanto, a dimensão do investimento contrasta com a realidade vivida, sobretudo em Ndalatando, capital provincial, onde a precariedade continua a ser a regra.
Moradores ouvidos pelo O Decreto relataram que praticamente todos os bairros da cidade estão sem iluminação pública. Em áreas como Kibuangoma, São Filipe, Mahamba, Kissecula, Katari e Rosa de Porcelana, a escuridão favorece o aumento da criminalidade e a insegurança. Isabel Tita, residente local, descreve um cenário crítico: “Todos os bairros de Ndalatando enfrentam sérios problemas de segurança por falta de luz e estradas em más condições.”
Embora faltem dados oficiais atualizados sobre a criminalidade, os relatos da população apontam para um aumento dos assaltos, principalmente durante a noite, com destaque para a atuação de grupos de jovens envolvidos em atividades delituosas.
Com cerca de 400 mil habitantes e uma densidade populacional baixa (20 habitantes por quilômetro quadrado), a província é majoritariamente rural — aproximadamente 34% da população depende exclusivamente da agricultura de subsistência. Produtos como mandioca, milho e feijão são os pilares da alimentação e da economia local.
Apesar das dificuldades, o Cuanza Norte possui potencial em áreas como a agricultura comercial (com destaque para o café robusta e o algodão), o turismo ecológico e cultural, e ainda a exploração de recursos minerais e hídricos. No entanto, os investimentos nesses setores permanecem tímidos. Menos de 5% do orçamento provincial foi destinado a iniciativas turísticas ou industriais nos últimos três anos, segundo fontes ligadas à administração pública.
João Diogo Gaspar chega ao governo com um currículo que inclui experiência como deputado e empresário, além de formação em Administração e Finanças. No entanto, os primeiros meses de sua gestão têm sido marcados por desconfiança e ceticismo por parte da população. Muitos residentes afirmam não esperar melhorias significativas na execução do orçamento nem nas políticas públicas da província.
Tentativas de contato com o governador foram infrutíferas até o momento. Vale lembrar que João Gaspar é próximo de figuras influentes do país, como o juiz Cristiano Augusto André, ex-presidente do Tribunal Supremo de Angola.
Enquanto isso, a população do Cuanza Norte continua a enfrentar diariamente os mesmos obstáculos que já atravessam décadas: estradas em ruínas, falta de energia elétrica, criminalidade crescente e um futuro que, até agora, parece distante de qualquer transformação real.