A cólera voltou a assombrar Angola com força total. Nos primeiros meses de 2025, o país já contabiliza milhares de casos e centenas de mortes provocadas pela doença, com as crianças a figurarem entre as maiores vítimas. Segundo dados oficiais, Angola ocupa agora o terceiro lugar entre os países africanos com maior taxa de mortalidade infantil causada pela cólera.
A situação foi confirmada pelo secretário de Estado para a Saúde Pública, Carlos de Sousa, que classificou o cenário como “muito preocupante”. Em declarações recentes, ele destacou que o surto tem-se agravado com o período chuvoso, sobretudo no mês de março, quando os números de infecções e óbitos dispararam.
De acordo com o Ministério da Saúde, as crianças com menos de 10 anos são as mais afetadas pelo surto atual. A taxa de mortalidade acumulada da doença no país já chega a 10,6%, um número alarmante que coloca Angola entre os países mais atingidos do continente.
Desde o início do ano, foram registados 14.971 casos de cólera em todo o país, dos quais 524 resultaram em morte. O avanço da doença preocupa particularmente devido à sua rápida disseminação e à falta de acesso a água potável em várias regiões.
Das 21 províncias angolanas, 17 já relataram casos da doença. As regiões mais impactadas incluem Cuanza Sul, Zaire, Cuanza Norte, Bengo, Malanje e Benguela. O aumento dos casos tem sido diretamente relacionado à época das chuvas, que contribui para a contaminação das fontes de água, agravando o surto em comunidades com saneamento básico precário.
Em apenas 24 horas, Luanda reportou 297 novos casos e 6 mortes, com vítimas nas províncias de Luanda, Bengo e Zaire.
As autoridades reconhecem que o país enfrenta um desafio urgente de saúde pública. A resposta ao surto passa por reforçar a vigilância epidemiológica, distribuir medicamentos essenciais e intensificar campanhas de sensibilização, principalmente nas zonas mais afetadas.
Contudo, enquanto as soluções estruturais, como o acesso a água potável e melhorias no saneamento, continuarem a ser adiadas, a população — especialmente as crianças — permanecerá vulnerável a surtos como este.
O combate à cólera em Angola exige ação coordenada, vontade política e apoio internacional. Cada vida perdida é um lembrete doloroso da necessidade de investir com urgência em saúde básica, infraestrutura e proteção às comunidades mais frágeis.