A oposição guineense afirma ter na sua posse as actas de apuramento originais das eleições gerais interrompidas após o alegado golpe de Estado, contrariando a Comissão Nacional de Eleições (CNE), que anunciou esta terça-feira, 2 de dezembro, a anulação definitiva do processo eleitoral. Segundo a CNE, “homens armados e encapuzados” teriam interceptado e confiscado todo o material eleitoral no mesmo dia em que o Presidente Umaro Sissoco Embaló foi deposto.
Muniro Conté, porta-voz do PAIGC, rejeita essa versão e sustenta que as actas continuam disponíveis, permitindo a divulgação dos resultados. Em declarações à imprensa, afirma que a CNE está sob forte pressão militar para justificar a suspensão do processo.
“O presidente da CNE está visivelmente coagido. Os militares invadiram as instalações, agrediram funcionários e confiscaram telemóveis. Nessas condições, é evidente que ele não se sente livre para comunicar com o país”, denuncia Conté.
Pelo modelo eleitoral da Guiné-Bissau, as actas de apuramento são entregues a várias entidades em cada mesa de voto — incluindo Ministério Público, Polícia Judiciária e representantes dos partidos. Por isso, sublinha o porta-voz do PAIGC, os resultados existem e podem ser verificados.
“Há actas originais suficientes para que todos os intervenientes tenham acesso ao documento. Na altura certa, a CNE terá de rever a posição de que está ‘impossibilitada’, porque há condições claras para anunciar os resultados”, afirmou.
A oposição considera ilegítima a continuidade do atual comando militar no poder. “As eleições foram realizadas. A vontade do povo deve prevalecer. As autoridades militares não têm condições para permanecer”, defende Muniro Conté.
Durante a visita recente a Bissau, a CEDEAO, tal como partidos da oposição e organizações da sociedade civil, apelou à retoma imediata do processo eleitoral.
O presidente da CNE, Npabi Cabi, permanece sob “proteção” das forças armadas. Há relatos de que teme pela sua vida e apela à comunidade internacional para garantir a segurança dele e da sua família.
A crise política permanece aberta, enquanto cresce a pressão para que os resultados eleitorais sejam oficialmente proclamados.

